quarta-feira, fevereiro 17, 2010

DESCENDO O RIO MEIA-PONTE

Paulo Castilho

No dia 23 de abril de 2004, após longos anos de vida sedentária, resolvi que iria descer o rio Meia-Ponte de canoa a remo. Sem nenhuma experiência ou informação sobre o trecho a ser percorrido, eu e um amigo (Ronilson) fizemos o trecho da ponte da rodovia GO-020 até o lago da usina Rochedo (ver artigo publicado em um dos primeiros posts deste blog).

Usina do Rochedo

O resultado foi tão agradável que resolvi fazer outro percurso, desta vez da cidade de Goianira até a ponte do município de Pontalina (também em artigo deste blog).
A minha maior dificuldade em todas essas descidas era encontrar um companheiro para me acompanhar, uma vez que não é aconselhável fazer esse tipo de aventura sozinho.

Ernesto Augustus

Para a minha felicidade, no anos de 2009, encontrei minha "alma gêmea" de aventuras... o amigo Ernesto.
Esse sujeito, que parece ser movido pelo mesmo espírito de aventura que me possui, foi o meu grande achado. Juntos a menos de um ano, já realizamos reconhecimentos pelos córregos de Goiânia que desaguam no Meia-Ponte (ver artigos no site www.meiaponte.org) e descemos uma grande parte do rio que ainda não conhecíamos. A nossa idéia é descer até a foz, no rio Paranaíba (a remo).

Roberto Bacin

Em Janeiro de 2010, fizemos nosso primeiro trecho (eu e Ernesto), da usina do Rochedo até a ponte do município de Pontalina (trecho onde eu havia cometido alguns erros em expedição passada, sofrendo um "naufrágio" e sendo aconselhado por pescadores a não prosseguir no trecho abaixo - que segundo eles era perigoso naquela época do ano: mês de Maio).

Estrutura de madeira para a prática de pesca, muito comum neste trecho.

O percurso percorrido foi de 28.5 km, feito em um período de cinco horas e trinta e quatro minutos, numa média de 6.5 km por hora, atingindo nas corredeiras a velocidade de 17.2 km. Como nossa idéia é divulgar a beleza do rio e a possibilidade da prática de remo, sempre convidamos um amigo para nos acompanhar. Neste dia estava conosco o amigo Roberto Bacin, que nunca havia remado antes em sua vida e que ficou maravilhado com a experiência, tanto que repetiu a dose na aventura seguinte.

Roberto em plena atividade

O trecho abaixo da ponte da rodovia BR-153 é um dos mais perigosos, tendo três pontos críticos, mas todos foram vencidos com o uso dos nossoa caiaques. Embarcações a motor teriam dificuldades mesmo nesse periodo, onde o rio tem bastante água.
As etapas foram realizadas em dias diferentes, sempre nos finais de semana. A segunda etapa foi realizada da ponte de Pontalina até a ponte do município de Aloandia.

Dois momentos de margens sem proteção vegetal

Desta vez fomos acompanhados por Roberto e seu professor de Educação Física, Hamilton Caetano.
O trecho de 48.2 km foi percorrido em oito horas de remadas, mantendo a velocidade média do trecho anterior. Segundo os moradores da região iríamos enfrentar dois ponto críticos, uma tal de Bica do Sirí e a região das Sete Ilhas, que fica no quilômetro 40.5 . Felizmente, devido ao volume de água, passamos por estes dois trechos sem maiores problemas. É uma região cheia de corredeiras porém sem grandes obstáculos (pedras).


Três pontes na BR-153

A terceira etapa foi realizada nos dias 13 e 14 de Fevereiro. O trecho de 46 km poderia ser feito em um dia, mas decidimos fazê-lo em rítmo de "passeio", pois desta vez levamos conosco a noiva do Ernesto, Érica, e o amigo jornalista, Renato. Contamos com apoio do amigo Luciano Almeida, morador de Aloandia, que nos ajudou fazendo o trabalho de apoio de terra. Não bastando o trabalho de ter que nos levar e buscar no rio, sua família ainda nos ofereceu um farto lanche em nosso retorno à cidade. Fica aqui nossos agradecimentos.

Belíssimo trecho após o primeiro momento de dificuldade (abaixo das pontes)

Na Semana Santa estaremos fazendo o percurso de Goiatuba até a Rodovia Ronan Alves Borges (Itumbiara-Jataí), que tem uma média de 75 km, e deverá ser feito em dois dias. Fica aqui o nosso convite para todos que quiserem participar da expedição. Ficará nos faltando percorrer um trecho de mais ou menos 47 km até o rio Paranaíba.


Lixos acumulados nas margens. Presença constante em todo o leito do rio.

Trecho próximo da ponte de Pontalina (abaixo do rio Dourados). No período da seca é complicado passar por aqui. Na ilha que existe abaixo deste ponto não se deve, de maneira alguma, passar pelo lado esquerdo. O lado direito deve ser escolhido e mesmo assim a atenção terá que ser redobrada.

Ponte no município de Pontalina

Lixo plástico marcando presença.

Águas transparentes logo abaixo da ponte. No local um belíssimo balneário particular.

Os maiores obstáculos são as pedras, que nesta época do ano estão submersas.

Garrafas plásticas... uma longa viagem pelo rio. Presentes praticamente em todo o trajeto.
Barreiras de contenção construídas no leito do rio no município de Goiânia resolveria grande parte deste problema. Um bom local para se colocar a principal barreira seria na antiga usina do Jaó (acredito que seriam necessárias mais duas barreiras, uma acima e outra abaixo deste ponto).


Ponte no município de Aloandia.

Equipe de apoio e alguns integrantes da expedição: Hamilton, Roberto, castilho e Fabio pai e júnior.

Renato Rodrigues (em sua primeira aventura nas águas do rio), Castilho e Eernesto.
Excesso de bagagem.
Noite tranquila em uma pequena ilhota, habitada por uma família de capivaras, que se viram obrigadas a dormirem na ilha vizinha.

Um belo amanhecer. recompensa para todo o esforço.

Uma das inúmeras habitações encontradas nas ilhas do rio.

Praias começam a se formar. Quem conhecer essas maravilhas pensará duas vezes antes de ter que se deslocar até o longinquio Araguaia.

Farofeiros do rio... uma parada para saborear farofa.

Chegando às margens do rio na ponte de Goiatuba.

A ponte do município de Goiatuba.

Acampamento de pescadores na margem direita do rio. Muito lixo e árvores cortadas. Falta bom senso e uma campanha educativa (e muita fiscalização). Durante todo o trajeto, nas diversas vezes que descemos o rio, não avistamos nenhuma espécie de fiscalização. Encontramos sim dezenas de pescadores com peixes abaixo da medida e até mesmo embarcações arrastando redes pelo rio.

quinta-feira, fevereiro 11, 2010

O BARCO DE SERGIO

SUIÁ, UM SENHOR VELEIRO

Por Coronel Lício

Suiá em reforma - Novembro de 1978

Um dos barcos mais polêmicos da Marina da Glória (baía de Guanabara, Rio de Janeiro) é, sem dúvida, o Suiá; mesmo velejadores que nunca saíram barra a fora, opinam sobre as qualidades do barco, levando em consideração apenas o aspecto rústico de suas obras mortas (parte acima da linha - d'água, a parte que se avista do casco quando flutuando).

 


Hoje, o Suiá está em Miami, para onde foi velejando, após uma longa permanência no Caribe, Bahamas e Triangulo das Bermudas e está em preparativos para fechar o circuito passando pela Europa, Mediterrâneo, África e ilhas do roteiro normal de volta, seguindo os ventos girantes dos dois hemisférios.

 


Nele, fizemos inúmeros cruzeiros pelo litoral brasileiro, Abrolhos, Fernando de Noronha, Natal, Recife, Maceió, Salvador, Florianópolis, etc., tudo sem o menor incidente, livrando o mau tempo sempre de maneira tranquila, própria de um bom barco.

Recife-PE

O Suiá foi construído pelo seu proprietário e comandante há mais de quarenta anos, em madeira. Depois, revestido com fibra de vidro em camada tão espessa quanto à do casco original; já trocou o motor, instalando um MWM de 4 cilindros, novinho; trocou a mastreação (grande e mezena) para de alumínio, mandou fazer velas novas, equipamento eletrônico completo, dotando-o para uma volta ao mundo. Após realizar inúmeros cruzeiros a Angra, Cabo Frio, Santa Catarina, Vitória, Abrolhos e litoral nordeste do Brasil, ajustando tudo e tirando os defeitos, vazamentos, goteiras, etc., deu início aos longos percursos: Trindade, Noronha e costa nordeste. Percursos longos e demorados, sem compromisso com o tempo.

 

Tito, Lício (camiseta branca) e Guga, nas proximidades da ilha Fernando de Noronha.

Em seguida, Caribe e Miami, passando pelas Bahamas e Triangulo das Bermudas, pelo canal de New Providence, durando o percurso mais de sete meses. Nesse fantástico cruzeiro, não pude ir. Foram, além do skipper Sérgio, o filho Tito (que permanece lá com o veleiro em Miami), o Percinoto e o Mário. Fizeram a perna Noronha – Tobago direta (duas mil milhas sem ver terra), em 20 dias de empopada fantástica, passando com lazeira de 100 milhas da foz do Amazonas.

Pelos mares do Caribe.

Suiá é o nome de uma tribo de índios, que o Sérgio estabeleceu o segundo contato com o homem branco, o que realizou sozinho sem pertencer a nenhum órgão indigenista.

 

Sergio Vahia, o pescador de lagostas - vestido a caráter.

Na realidade, o barco vale pelos cruzeiros que já realizou; não há como deixar de reconhecer. Um barco de oceano que nunca velejou por alto-mar, em travessia, não está completo, realizado. Ou nunca foi e está em preparativos para ir, ou o comandante se acomodou, perdeu o trem da oportunidade...