sábado, dezembro 26, 2020

SAIBA MAIS SOBRE O CERRADO - TURMA DA MÔNICA

 


Excelente para trabalhos escolares de nossas crianças!!!!
História em quadrinho educativa
(é preciso ter instalado o programa CDisplay)

Download:

sexta-feira, dezembro 25, 2020

DESPEDIDA DE UM AMIGO...

 


Enquanto todos se preocupam com a Covid,
o câncer continua levando a vida de nossos amigos.
O Natal desse ano foi triste, perdemos um "companheiro de picada", como costumamos falar entre nosso grupo de aventuras pelo Xingu. Odone Ferrão Pinheiro, que além de nosso amigo também era nosso mecânico e cozinheiro de aventuras, partiu para o andar superior neste mês de dezembro. Travou uma luta desleal com essa doença maldita, chegou a participar de algumas aventuras pelo Xingu mesmo acometido por dores e incômodos. Partiu e acabamos não realizando nosso passeio pela costa do Rio de Janeiro em seu barco, como ele havia me prometido.
Que repouse em paz, companheiro.

SERTÃO VELHO CERRADO

 




Apesar de se tratar de um documentário de 2018, infelizmente o assunto é muito atual, pois aborda o desmatamento dos biomas brasileiros. Ser Tão Velho Cerrado, disponível na plataforma de streaming Netflix, nos mostra e sensibiliza para as causas da cerrado brasileiro, o bioma mais devastado do país, segundo o filme.
A maneira que o diretor André D'Elia optou por contar a história e apresentar a diversidade de pontos de vista é muito interessante. O filme apresenta discursos intercalados de especialistas, como engenheiros ambientais, cientistas e ambientalistas do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Outras perspectivas divergentes também são mostradas: os ruralistas e representantes de mineradoras aparecem tentando justificar o desequilíbrio gerado pelas práticas que vem destruindo a região. A população local também tem voz, o Quilombo Kalunga tem um papel muito importante no documentário, pois os relatos dos moradores acabam criando uma linha temporal, alertando para o estado da região antes e depois da aparição do agronegócio.
Um fator interessante que agrega na conexão dos discursos são as pequenas intervenções de Juliano Cazarré e Valéria Pontes, que sutilmente acrescentam observações que às vezes complementam e em outros momentos contradizem o que foi dito no discurso anterior, principalmente em dados falsos que são apresentados nos depoimentos dos ruralistas.
  O filme nos contextualiza historicamente na formação concreta do Cerrado (Ser Tão Velho), que data 45 milhões de anos, sendo de extrema importância para os biomas que o circundam. Atualmente, o Cerrado se encaixa na categoria de hotspot, expressão utilizada para se referir a áreas de grande biodiversidade animal e vegetal, e que apresentam alto risco de extinção. Portanto são regiões em alerta, que precisam de atenção urgente e da criação de programas para a proteção da fauna e da flora local.
Além do alerta para a conservação vegetal e animal, há também outra questão muito discutida no documentário: a água. Devido a posição e ao relevo em que se encontra, o Cerrado tem um grande número de nascentes que escoam água para todas as regiões do Brasil. A maioria das nascentes de grande rios e bacias brasileiras partem do Cerrado, fornecendo água para rios como o São Francisco, Rio Xingu (Bacia Amazônica) e Rio Paraguai que forma a Bacia do Rio da Prata e abrange o Paraguai, o Uruguai e a Argentina. Além disso, o Cerrado também abastece diversos aquíferos, sendo o mais famoso deles o Aquífero Guarani.
A principal informação que o documentário busca passar é a necessidade de combate a indiferença do governo para a destruição desse bioma único no mundo que é o Cerrado. O filme é uma possibilidade de conscientizar a todos que não estão atentos sobre essa devastação ambiental, e gerar reflexões e debates nas escolas e universidades.
Ficha Técnica:
Ser Tão Velho Cerrado
Diretor: André D'Elia
Ano: 2018
Duração: 96 Minutos
Gênero: Documentário


quarta-feira, setembro 30, 2020

JALAPÃO - ONTEM E HOJE

 


JALAPÃO ONTEM & HOJE
Fundação Astrojildo Pereira
Pedro Pinchas Geiger e
William Guedes Martins

Onde comprar:


De autoria dos geógrafos Pedro Pinchas Geiger e Willian Guedes M. D. Menezes a obra é dividido em duas partes. A primeira é o relatório da excursão ao Jalapão escrito em ano de 1943 por Pedro Pinchas Geiger. Ele integrava uma equipe do IBGE que tinha como objetivo subsidiar com informações a produção de uma das cartas do projeto do Brasil ao Milionésimo, iniciado na década de 1920. 


Essa primeira parte do livro traz análises sobre dinâmicas desde os municípios baianos de Formosa do Rio Preto, Santa Rita de Cássia e Barra até o Jalapão, no Tocantins. Já a segunda parte do livro apresenta as pesquisas desenvolvida por Willian Guedes M. D. Menezes no curso de mestrado da UFBA entre os anos de 2012 e 2014. O objetivo principal foi analisar o uso agrícola do território no município de Formosa do Rio Preto, na Bahia, que passou por substanciais transformações, a partir das últimas décadas do século XX. Em ambas partes do livro, o município de Formosa do Rio Preto é analisado. E a obra concluiu com a necessidade de pensar os novos usos agrícolas nesse município. SOBRE OS AUTORES: Pedro Pinchas Geiger (Rio de Janeiro, 18 de fevereiro de 1923)[1] é um geógrafo brasileiro que propôs, em 1967, uma nova divisão regional do Brasil, diferente da adotada atualmente, levando em conta não apenas os aspectos naturais, mas também os humanos e o processo histórico de formação do território do país, em especial a industrialização.


 Willian Guedes Martins Defensor Menezes é licenciado, bacharel e mestre em Geografia pela Universidade Federal da Bahia. É professor de Geografia da Rede Estadual de Ensino da Bahia, discente do curso de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal da Bahia e integrante do Grupo de Pesquisa Produção do Espaço Urbano (PEU-UFBA). Trabalhou como geógrafo no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), tem artigos publicados na área de geografia e atualmente estuda o uso agrícola do território brasileiro


segunda-feira, setembro 21, 2020

DICAS PARA NAVEGAR MELHOR POR NOSSAS PÁGINAS

 

Obrigado por visitar nosso blog.

Se você não tem costume de navegar por blogs, aqui vão algumas dicas que poderão te ajudar a apreciar melhor o que foi postado por nós:




Na coluna da direita existe um tópico chamado MARCADORES. Escolha o assunto do seu interesse e clique sobre ele, assim você terá todos os artigos reunidos na barra de navegação. Aqui escolhemos o tema SERGIO VAHIA.

Se você não escolher um dos marcadores, irá navegar pelo blog vendo os artigos na sequência em que foram postados (por data).


Ao chegar no final de cada página, no meio da tela existe o tópico PÁGINA INICIAL (Clicando aqui você volta para o início do blog, ou seja, para a página inicial), e mais à direita temos o tópico POSTAGENS MAIS ANTIGAS (Onde você poderá ver os artigos postados anteriormente).





sexta-feira, setembro 18, 2020

POUSADA SUIÁ, NO ARRAIAL DO CABO-RJ

 EDIFICANDO UM LEGADO

Fotografias de Artur Vahia


Outra grande paixão de Sergio Vahia era a pesca submarina. Pescava lagostas. Chegou à conclusão de que precisava de uma "base" onde hoje fica o Arraial do Cabo, que na época era apenas uma pequena vila de pescadores. Existia na época, naquela praia, apenas uns dez barcos de pesca.


Comprou um lote e ali, através de um financiamento do Banco do Brasil, conseguiu erguer uma casa. Seria ela sua "base de operações" para seus mergulhos. Era dali que ele partia mar adentro para capturar suas lagostas.

O terreno ficava em uma região cheia de lagos ao seu redor e a grande quantidade de mosquitos incomodava.


Sergio construiu o imóvel, uma casa térreo, com tamanha segurança e base forte que foi possível ampliar a construção, erguendo ali um grande sobrado.

Sergio teve problemas em um de seus mergulhos, sofrendo um acidente que quase ceifou sua vida. Impossibilitado de continuar com seu esporte predileto. Por volta do ano de 1989/90, decidiu transformar a casa em uma pousada, já que sua filha (Fernanda) havia cursado Turismo e Hotelaria. 


Surgiu então a Pousada Suiá. Com 12 suítes, a 500 metros da praia do Forno.

Arraial do Cabo fica a 12 km de Cabo Frio e a 180 km da cidade do Rio de Janeiro. Uma excelente opção para quem quer descansar em uma região mais tranquila.


Entre uma viagem e outra ao Xingu, Sergio teve a ideia de reunir material produzido pelos índios e montar dentro da pousada uma espécie de museu.


Tendo as paredes da pousada decoradas com belíssimos painéis fotográficos, que retratam momentos importantes da vida de Sergio Vahia naquela inóspita região.



Toda a decoração ajuda a dar um clima que faz jus ao nome da pousada.



OBJETOS EXPOSTOS NO MUSEU DA POUSADA


No pequeno museu, criado dentro da pousada, é possível encontrar os mais diversos objetos produzidos pelos índios do Xingu.


Belíssimos cocares...


Redes de fibras vegetais...


Colares, tapetes (forros) multicoloridos...


BORDUNAS
Arma importante da cultura bélica indígena, a borduna não era ferramenta do uso diário como o arco e flecha, se destinando unicamente para a guerra. A borduna nada mais é do que uma clava - um pau pesado em uma extremidade, que causava danos pelo impacto direto. As formas dessa arma (comprimento, peso, forma de decoração, etc) - e até nomes (borduna, manacã, tangapema, iviragapema, tacape, etc), variam de grupo indígena para grupo indígena.


Objetos de valores inestimáveis que trazem boas recordações para quem viveu aquelas visitas ao "Paraíso Verde" do Xingu.



Cestos, vasilhas em forma de animais (feitas de barro ou madeira)...


Remos de diversas etnias... tudo exposto e organizado de maneira a aguçar a curiosidade daqueles que se interessam pelo assunto.


Remos de madeira e cestos


Artesanato, "onça comendo macaco", feita por índio Trumai.


Canoa de casca de Jatobá
Tecnologia milenar quando era usado ainda o machado de pedra, que como sabemos não corta, dilacera, e assim podia cortar a casca relativamente mole daquela árvore.


Canoa de casca de Jatobá eram fabricadas de maneira simples, de um tronco de jatobá, que é uma árvore alta. Prepara-se, primeiro, uma armação de estaca, diante do jatobá, cortando-se, depois, pela metade o madeiro cilíndrico a golpe de machado. Logo após essa comprida peça é cortada em forma de canoa. A fibra da árvore era flexibilizada pela ação do fogo mantido na concavidade, de forma a se conseguir, por meio de alçapremas, o encurvamento das partes da frente e de trás. Alguns paus, fincados por dentro, não permitem que as beiras da canoas dobrassem muito para dentro. A grossa película fibrosa é impermeável à água.











BIBLIOTECA DE SERGIO VAHIA

 

Um livro raríssimo, esgotado há tempos. Um oferecimento de Sergio Vahia.
Disponível para download.


O BRASIL CENTRAL
Dr. Karl Von Dein Steinen
Companhia Editora Nacional - São Paulo

DOWNLOAD

EXPEDIÇÃO DE 1884 PARA A 
EXPLORAÇÃO DO RIO XINGU

Livro de primeira ordem, pela riqueza de dados e de informações, este, de Karl Von Den Steinen, sobre o BRASIL CENTRAL, que é surpreendido por um observador metódico e penetrante e estudado sob os mais diversos aspectos. É uma longa narrativa da expedição alemã que se realizou em 1884,, para a exploração do rio Xingu, e de que fazia parte o físico Clauss, Whlhelm Von Den Steinen, pintor e Karl Von Den Steinen, médico, a quem coube, no programa de investigações, o estudo antropológico e etnológico das tribos visitadas. Essa viagem, - a primeira que fez ao Brasil, Von Den Steinen, - teve como ponto de partida a foz do La Plata e como ponto final a do Amazonas, no Pará, com escalas por Corumbá e Cuiabá, em Mato Grosso, de onde a expedição partiu em 1884, alcançando o Pará em fins de outubro.Não há uma página que não desperte interesse ou que se leia sem proveito, nessa obra fundamental.



VIAGEM AO XINGU
Henri Coudreau
Livraria Itatiaia Editora Ltda

Download gratuito

Para este livro, escrito em 26 de novembro de 1896, Henri Coudreau, um desses apaixonados pelas coisas do Brasil, precursores dos brasilianistas, que aqui vieram, viram e escreveram, pede "a indulgência ao leitor", alegando ter sido escrito com certa pressa. A bem da verdade: em menos de um mês. Nem sempre, porém, a pressa é inimiga da perfeição.

Pois o que o leitor de hoje terá a responder é que não há desculpa alguma a ser concedida, pois estamos em face de um livro de impressionante vivacidade, abridor de clareiras e perspectivas, ainda atualmente válidas para o estudioso dos problemas amazônicos, que chegaram a assustar Humboldt.


segunda-feira, setembro 07, 2020

DOCUMENTÁRIO "CORAÇÃO DO BRASIL"


O filme documentário CORAÇÃO DO BRASIL refaz, na atualidade, a expedição ao Centro Geográfico do Brasil, comandada pelos irmãos Villas Boas em 1958. Sergio Vahia, Adrian Cowell e o cacique Raoni retornam ao Centro 50 anos depois e trocam recordações. O Centro Geográfico do Brasil encontra-se na terra indígena Capoto - Jariná, MT, em área exclusiva dos Kaiapó/Txucarramae.


Vídeo parcial. Em breve estaremos disponibilizando a versão completa.

FICHA TÉCNICA:
Direção e Produção: Daniel Solá Santiago
Roteiro: Ricardo Dias, Daniel Santiago e Mariana Fresnot
Edição e Montagem: Mariana Fresnot
Fotografia: Aloysio Raulino e Cleumo Segond (ABC)
Som Direto: Francis Cirino e Luis Augusto Donola
Trilha Sonora: Pedo Sales Santiago e Bruno Roberti
Edição de Som: Alexandre Guerra (Input Som)
Pesquisa de Imagem: Remier Lion
Direção de Artes Gráficas: Sofia COsta Pinto
Direção de Produção: Marçal de Souza

quinta-feira, setembro 03, 2020

SERGIO VAHIA - A HISTÓRIA ATRAVÉS DE FOTOGRAFIAS


Livro onde todas as histórias aqui relatadas poderão ser apreciadas com mais detalhes. Link abaixo para download da versão digital em PDF.

DOWNLOAD

Se preferir ler o livro impresso,, adquira seu exemplar através da Amazon:
https://www.amazon.com.br/s?k=da+mata+atlantica+ao+xingu&__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&ref=nb_sb_noss

Há pouco, o Percinoto, meu amigo por cinquenta anos, companheiro de inúmeras andanças terrestres ‘’Mata Atlântica e Xingu’’, marítimas ‘’costa atlântica do Brasil e Caribe’’ e fluviais ‘’rio Xingu e rio Japurá na Amazônia’’ – aéreas não, pediu-me que, em complemento, comentasse as fotos que ele ficou de mandar para a FAP - Fundação Astrojildo Pereira... Elas foram tiradas, por conta própria, pelo neto paulistano Arthur Vahia, fotografo profissional, na Pousada do Suiá em Arraial do Cabo (RJ), quando lá esteve escondido da COVID 19.
Por mais sugestão do Percinoto eu deveria me prolongar um pouco para tudo ficar amplamente entendido.
Abordei, então, por interessante, a recente conquista do grande oco da nossa pátria que é o Brasil central, até então completamente desconhecido.

 A CONQUISTA DO BRASIL CENTRAL

A imensidão matrogrossense que seria explorada pela Expedição Roncador-Xingu

Para mim, tudo começou em 1943 quando meu pai, o fluminense Darcilio Vahia de Abreu, largou o seu consultório e o cargo de cirurgião do famoso hospital Miguel Couto da cidade do Rio de janeiro e se alistou como médico da expedição Roncador-Xingu, criada pelo João Alberto Ministro Sem Pasta do Presidente Getúlio Vargas. Foi uma longa e penosa marcha abrindo picada.
Dr. Darcilio Vahia de Abreu

Em seguida, foi criada a Fundação Brasil Central (FBC) destinada a desbravar e colonizar (Educação, saúde e Transporte), o imenso oco desconhecido e desabitado que era o Brasil central.
Na mesma época alistaram-se também o reconhecido médico sanitarista Doutor Noel Nutels e ainda três ‘’braçais’’, desconhecidos jovens paulistas e entusiastas – os irmãos Vilas Boas.

Dr. Noel Nutels (sem camisa) em atendimento aos nativos.

Naquela época o Brasil ‘’acabava’’ em Uberlândia (MG). De lá pra frente havia apenas umas poucas pequeníssimas cidades e currutelas com exceção da colonial ‘’Vila boa’’, ou melhor, a cidade de Goiás (Goiás velho).

Praça da República, atual Tubal Vilela, em Uberlândia.

Por sorte e por anos, pude desfrutar da retaguarda daquela expedição. Minha primeira viagem, com 16 anos, foi para Aragarças em caminhão da FBC. Partindo de Uberlândia foi uma penosa viagem de 19 dias em estrada feita com enxada e picareta. Inúmeros longos atoleiros exigia a construção de estivas feitas com inúmeros paus colhidos no mato. Era um goiás desabitado. Fazendas ‘’retiros’’ muitos espaçadas umas das outras quase independente. Tinham de tudo. Fibras de algodão e caroá eram fiadas. Daí, em simples máquinas de tecnologias secular faziam-se tecidos. Usados para produzir vestuário muito rústico. Mil garrafadas eram sua medicina e farmácia só não produziam duas coisas essenciais: agulha de aço para costurar e sal para o gado. Saudosa jornada e educadora.

Travessia do Rio dos Bois, em Goiás, no ano de 1944, seguindo em direção a Aragarças (GO)

Depois fui a Xavantina num grande monomotor do Correio Aéreo Nacional que pifou por 3 vezes em dias intercalados necessitando socorro foram alguns pousos em emergência. Por lá passei boa e intima temporada entre os recém apaziguados Xavantes muito aprendi com eles riqueza e sobrevivência no Cerrado. Depois ‘’desaguei’’ no universo do rio Xingu. Após inúmeras viagens, algumas sozinho naquele mundão só meu, me naturalizei ‘’Xinguano’’. Tudo em detrimento de viagem ao exterior, jamais feitas apenas uma exceção ao Caribe no meu barco à vela quando o Percinoto foi tripulante. Assim, no correr de anos amealhei um cem número de utensílios de índios das etnias: Suiá, Trumai, Cajabi, Juruna, Caiapó, Waurá e Xavante. De todo esse material saliento uma canoa de 4 metros e meio de casca de jatobá. Tecnologia milenar. Do tempo do machado de pedra que não cortava, apenas dilacerava mas podia cortar a macia casca daquela arvore. O cerne nem pensar. Todo esse material foi armazenado numa casa de praia em Arraial do Cabo (RJ) que construí em 1970. Hoje é a Pousada do Suia. Tive muita sorte pois passei por poucas e boas. Histórias de onças, contato solitário com índios ainda ‘’brabos’’ (Suiás) mil histórias de caçador. Estou tudo relatando, não só por um pouquinho de vaidade, mas principalmente para então pudesse convencer que é real o que vou contar mais a diante só faço isso porque tenho testemunhas oculares de indígenas ainda vivos. Vou aproveitar essa rara oportunidade para clamar; o ‘’Brasil está secando’’. 
A chuva é um ‘’produto’’ da floresta não tem como negar. Não adianta superávites, dólar baixo, empregos e outros progressos se não chover. Pouco adianta represas, açudes, caixas d’água, reusos ou melhor usos. Não adianta. O nosso Sul e sueste há muito estão dando sinais. Racionamentos são constantes comprovantes. As hidroelétricas e o agronegócio muito sofrerão e finalmente irão ‘’pro brejo’’ ou melhor pro deserto.
Não estou me referindo ao aquecimento global. Se tocar nisso choverão ‘’mil ataques e protestos’’. O nosso caso é particular só do brasil.
O homem, quer seja agricultor, pecuarista ou simples urbano não respeita nada desmata até chegar as areias dos córregos e rios. Tudo para aumentar estupidamente a área a ser explorada e gerar lucro. Os mangues por sua vez vêm sendo devastado para dar lugar a construções. É um suicídio generalizado. Posso afirmar tudo isso pela simples comparação dos níveis dos inúmeros rios que venho transpondo por décadas sistematicamente. É simples ver que estão baixando cada vez mais é de chorar constatar o tantos desníveis e seus resultados. O rio São Francisco, tão comentado pela mídia está secando visivelmente a cada a ano graças ao desmatamento sistemático de suas matas ciliares bem como a de toda a sua bacia.
 Vamos agora a ‘’conquista’’, que na prática foi feita de duas maneiras. Aqui convém ressaltar que não sou formado em nada. Sou um simples observador.


Aragarças 1943 - Dr. Darcilio (em pé, o quarto da esquerda para a direita) no momento da chegada ao Brasil Central pelo Correio Aéreo Nacional (CAN),
com o avião canadense Nordwin.

Na primeira a FBC, conjuntamente com a FAB, semeou inúmeros campos de aviação para apoio da rota aérea Rio-Manaus, primeiro passo para se ir aos EUA. Na FAB havia um departamento com essa finalidade.


Moradia típica na época de 1943 na Barra Goiana (atual Aragarças-GO)

Em 1943, a FBC partindo de Aragarças ‘’ expedição Roncador-Xingu’’ fez uma picada de aproximadamente 150 km ‘’em linha reta’’ com o destino o rio das mortes. Chegando lá foi feito um acampamento-base (tudo de pau e palha do mato).

Ministro João Alberto e outros contemplando o encontro dos rios Garças e Araguaia.
Hoje municípios de Aragarças (GO), Pontal (MT) e Barra do Garças (MT)

Com o correr do tempo se transformou em cidade, agora há a desenvolvida Nova Xavantina capital de município riquíssimo.
A expedição foi comandada pelo coronel do exército Vanique, ex-chefe da segurança pessoal do presidente Vargas. Gaúcho rico em ‘’gauchadas’’ trouxe vários amigos conterrâneos como funcionários. E pouco depois sumiram, acredito para o sul.


Trabalhadores braçais abrindo picada.

A picada foi extremamente penosa, pois tinha que atravessar a fabulosa mataria do rio Pindaíba, afluente do Mortes. Um imenso brejal quase intransponível. Lá, agora, um sem número de pastos com capinzal monótono porem rendoso. Para mim, que tristeza. De Xavantina a picada continuou rumo norte verdadeiro. Eram feitos um campinho de avião atrás do outro com razoável espaçamento cobertos por constante apoio de aviões leves, quando surgia algum lugar com boas características então o campinho era aumentado. Para lá pequenas partes de tratores eram levadas para depois montá-los. Acumulava-se gasolina de avião – sangue vital de tudo. Assim, surgiram os seguintes campos permanentes de grandes proporções agora com a FAB administrando: Aragarças, Nova Xavantina, Jacaré (rio Kuluene), Cachimbo e Jacaré–acanga. Esses dois últimos já no Pará o do Jacaré e chamado erroneamente de Xingu.


Travessia de animais no rio Pindaíba, então cercado por esplendorosa mata, entre Aragarças (GO) e Xavantina (MT).

Nesses campos dezenas de pousos em emergência foram efetuados salvando centenas talvez milhares de vidas.
O CAN (Correio Aéreo Nacional) existe desde 1931. Foi mantido com fluxo permanente por décadas em todo território nacional onde através de complicada rede. Atendia um grande número de cidades ou mesmo pontos isolados. Na Amazônia famoso hidroavião Catalina era o único grande socorro. O correio aéreo levava e trazia médicos, dentista, enfermeiros, doentes, produtos farmacêuticos e mais um sem número de utilidades indispensáveis para um povo isolado.


Dr. Darcilio, no carroção e Coronel Vanique no cavalo, na picada já alargada perto do acampamento de Xavantina.

A outra maneira de ‘’conquista’’ era a abertura de estradas (responsabilidade da FBC).
Assim, o primeiro passo dado foi a estrada que liga Aragarças à Xavantina, como já disse de uns 150 km. Foi feita com grandes adversidades pois transpôs o imenso brejal do rio Pindaíba. Para se asfaltar ou concretar ocorreu muito sacrifício, trabalho e altos custos. Levou anos.




Vista aérea do acampamento da expedição com ranchos de palha, onde seria fundada a próspera cidade de Xavantina (MT).

A fundação parou aí em Xavantina até 1965, quando foi criado um grupo de trabalho a ‘’expedição Xavantina-Cachimbo’’. Teoricamente rumaria para Santarém (PA).


Dr. Darcilio (com cigarro na boca) no grupo da picada inicial da Expedição que começou em Aragarças, chegando ao Rio das Mortes.

O grupo era constituído de vários setores de pessoal contratado ou com funcionários efetivos da fundação. Eram os seguintes grupos: de abertura de picada, de aviação (avião leve, com horas de voo para observar e dar o rumo da estrada), terraplanagem com máquinas pesadas, de fábrica de manilhas, e extração várias (cascalho, areia e madeira). Todo grupo tinha cozinha e radiotelegrafia (radiotelegrafista, aparelho de radiografia sem fio, e gerador de energia), de construção de pontilhões ou mesmo pequenas pontes (com o piso de madeira de lei). Tudo isso esparramado naquele mundão. De início próximas, depois distanciadas por dezenas de quilômetros.


Na precária pista de pouso feita próximo ao acampamento do Tatu Canastra (Capoto). Da esquerda para a direita: Pionim, Orlando, Chico Doido (piloto), Bruno (funcionário da FBC), Claudio, Pataku, Sergio Vahia e Clemente. 

A orientação do rumo e de tudo ficava com o ‘’chefão’’ Enzo Pizano, velho funcionário da fundação de alta eficiência. Sabia de tudo.
Entretanto, cerca de dois meses após o começo aquele ‘’chefão’’ se demitiu, causando estupefação. Criou-se um problema, contratar um engenheiro novo que teria de se assenhoriar de um universo complexo de conhecimento de pessoal como de trabalho. Para mais complicar as administrações da fundação deixava muitíssimo a desejar.


Membros da primeira expedição, nas proximidades de Xavantina

Eu como já um funcionário ‘’naturalizado’’ devido ter convivido muito naquele universo desde novo tudo era fácil para mim. Fui chamado para substitui-lo.
De início recusei veementemente pois perderia o meu ‘’viver’’ na picada 100%.
Depois de muita negativa cedi.
Passei a conduzir tudo. Eu não tive dificuldades pois conhecia o pessoal quase todo. O principal trabalho era dar o rumo da estrada. Qualquer erro resultaria em desfazer trabalhos pesados. Que medo de errar.
Felizmente desempenhei tal função com êxito. Para isso voei muito, primeiro se voava bem alto para ter uma noção geral do trecho a ser usado. Uma vez escolhido o rumo se voava o mais baixo possível para procurar obstáculos como brejos ou lagoas. Não havia elevações tudo muito plano.


Sergio Vahia, se sentindo em casa.

Na seca as máquinas pesadas trabalhavam quase dia e noite. Nesse período, nossas roupas nunca secavam. Na chuva tudo ficava parado a não ser a picada, a feitura da picada e outros pequenos trabalhos.
Após uns dois anos de trabalhos já perto de uns 400 km, o Ministro do Interior, o general Albuquerque Lima mandou parar tudo imediatamente sem dar a mínima explicação.
Como ele era o candidato mais cotado para a presidência da república pensei que ele tinha se comprometido com os políticos de Cuiabá que queriam que a estradas deles chegasse primeiro a Santarém. Décadas depois (que inocência) descobri que o motivo se relacionava à ‘’guerrilha do Araguaia‘’. Fiquei muito triste ao ver que a ‘’minha‘’ estrada estava fadada a ficar um beco sem saída. Que fim!


Piloto Francisco Milhomem, conhecido popularmente por Chico Doido.

Como eu já desconfiava (não me lembro o por que) tal paralisação iria acontecer estudei uma saída: rumar para as cidades de São Felix do Araguaia que beira aquele rio. Eram mais uns 90 km. Mirei a sede da fazenda Suiá-Missu bem próxima daquela cidade. A maior fazenda do mundo de propriedade do grupo Ometo, o maior fabricante de açúcar do mundo. Mesmo destituído da função de chefe continuei com ótima relação com todo o pessoal. Assim pude botar a picada com as máquinas atrás até a citada sede. Cheguei praticamente a São Felix, uma cidade que até então só se comunicava exclusivamente por via fluvial.
A estrada passou a ligar, com frutos imediatos, as  duas cidades: São Felix e Xavantina.


Dr. Darcilio Vahia com índios Kalapalos, no rio Kuluene.

Para tanto tive que dar uma guinada de mais ou menos 15 graus a leste. Uma indiscutível e absurda indisciplina. Sua punição, porem invejável: retornar ao Rio para a minha ‘’doce vita’’. Retornaria a minha função no banco central de onde tinha sido requisitado pela segunda vez. Haveria, logo depois, uma terceira, da mesma FBC que pertence juridicamente ao Ministério do interior. Na estrada surgiram com o tempo várias riquíssimas cidades. São elas: Água Boa, Ribeirão Cascalheira, Querência e Canarana. Isso além de viabilizar mais progresso das duas cidades agora unidas (São Felix e Xavantina).
Só, anos depois, com a SUDECO (Superintendência do Desenvolvimento Centro Oeste) a estrada voltou a ‘’andar’’. Orgulhosas pontes foram feitas sobre o rio Araguaia, Garças e Mortes. As estradas rumando sempre o norte verdadeiro, aquele novo órgão substituiu a FBC, extinta em 1968. O Governo Federal muito ajudou. Então as estradas chegaram ate os confins do estado do Pará para atender as novas e ricas cidades.



Com a febre de levar para o centro do país o governo, criou-se Brasília. Trabalho monumental. Monumental é pouquíssimo. Não tenho palavras. Diante do custo e consequências.
Daquele clima febril de construções surgiram as gulosas empreiteiras, agora muito bem ‘’climatizadas’’, com o modo de agir bem elaborado. Um novo financiamento e dinheiro fácil surgiram obras gigantescas sem motivo.
Um exemplo que posso dar foi a custosa pista de aviação e hotel de luxo na ilha de bananal posso contar o por que, vários operários daquela obra são meus conhecidos e amigos da FBC.


Andaime para a construção de ponte de madeira sobre o rio Areões. 

Como disse na ilha de bananal foi construída uma grande e bem aparelhada pista de aviação e um hotel de luxo como já disse, com o nome do nome do hotel J. Kennedy que anos depois foi mudado para Juscelino Kubitscheck. Todos os seus utensílios tinham marcada as letras ‘’J’’ e ‘’K’’.
Para essas obras todo o material foi transportado por aviões, uma vez chegou lá um caminhão carregado de óleo diesel. O motorista perguntou onde depositar o óleo. Como não tinha lugar nenhum o caminhão foi comprado na hora, como deposito a bom preço desconhecidos sem nenhum controle. Que loucura. Por essa passagem podemos imaginar o que acontecia naquela época. Três meses depois da minha exoneração fui requisitado de novo, quem me deu posse pessoalmente foi o citado ministro. No momento da posse perguntei ao ministro sobre a estrada. Virou as costas e sumiu. Mal educado.
Fui ‘’obrigado’’ a chefiar a base Aragarças, não havia a mínima presença do governo e nem prefeitura. Como chefe virei prefeito e delegado. Quase também juiz de paz.
Sem picada nada me agradava, foi quase um ano e meio de muito trabalho que não nos interessa agora abordar. Não vou me alongar por não haver mais nada de interesse no nosso caso. O motivo agora é comentar foto que o Percinoto mandou para a fundação. Mandarei mais algumas fotos que achei interessante. 


Jacaré abatido no rio Areões - Sergio e o índio xavante Morino - 1950.


A melhor ferramenta das expedições pelo Mato Grosso, o avião Cessna 170, prefixo PT-BUL

DESCANSANDO NO ACAMPAMENTO TATU CANASTRA:
 Sergio Vahia

Orlando Villas Boas

Claudio Villas Boas 




Sergio Vahia com criança indígena.

Alguns membros da equipe da Expedição Xavantina-Cachimbo:
 Sergio e Raimundo "Sonhador"


Grupo de expedicionários da Expedição Xavantina-Cachimbo.

Sergio orientando tratorista durante trabalhos de abertura de estrada.


Travessia de máquinas pesadas e equipamentos através de balsa pelo Rio das Mortes, em Xavantina. 


Duas fotografias emblemáticas tiradas em uma elevação da região do Capoto. A primeira foto foi usada como capa do livro de Sergio. Na foto de baixo, aparecem Claudio, Pionim, Brecoché, Orlando e Raoni.


Os índios Suiás:
 Índios Suiás ainda curiosos com a chegada inesperada do branco "atrevido" (Sergio).


 Líder da tribo, Pentotê, pai do atual líder Kuiuci.


Kuiuci, em 1959, atual "chefão" da tribo Suiá.

Sergio Vahia garantindo o almoço, após subir o rio Arraias por 15 dias.

Canoa da Expedição "ajojada" à canoa dos índios Jurunas - Sergio pilotando.

 Kurumatá, mulher do Kamaiurá Takumã
Sergio pilotando barco feito com chapas de aço no rio Kuluene (1953)

MARCAÇÃO DO CENTRO GEOGRÁFICO - 1958
O marco.
Observem o cipó enrolado em volta do marco.
Foi a trena de medida usado para fazer os cálculos durante
a expedição. Do rio Xingu ao Centro Geográfico são 18,2 km.


Orlando e Franklin

Sergio Vahia.

Raoni (com 18 anos) e Pszaká Juruna

Adrian Cowell e Chileno, na Expedição do Centro Geográfico (1958)

Orlando e o cachorro "Alemão", que dias depois foi vítima de um ataque de onça.

Sergio dando rumo à picada.


"Matando o pau e mostrando a cobra"
Sergio com sua "jibóia" exposta, na picada do Centro Geográfico.

Sergio em pose de artista de cinema.


Raoni, garoto propaganda da ESSO.




Por oportuno, aproveitando esta rara oportunidade de me expressar, relato trecho do meu livro (Da Mata Atlântica ao Xingu) intitulado "Água" a propósito da abominável seca que o Brasil esta passando. Na Amazônia grupos organizados, ou não, fazem o que querem tomando posse, desmatando, queimando e envenenando as águas com mercúrio (nos garimpos de ouro).

É uma terra de ninguém, ou melhor, só deles, pensem bem. 

A chuva no Brasil é uma decorrência indiscutível das florestas. 

A base de todos esses crimes e outros "suicídios" é somente ela: a impunidade que tudo garante.


ÁGUA
(Páginas 279 a 283)

Rio preservado, sem a ação predatória do homem.

É indiscutível a visível mudança climática. E para bem pior. Estamos esquentando inexorável e perigosamente, não há dúvidas.O retorno está cada vez mais problemático, pois exigirá grandes e difíceis mudanças socialmente traumáticas. Será muito utópico um consenso mundial. 

Ninguém quer abrir mão das envolventes e gostosas benesses da modernidade e das tecnologias. Nem eu.

Frondosas florestas dando lugar a pastos e lavouras.

A água está escasseando de maneira bem clara. Diversas regiões da nossa terra estão se desertificando. Geleiras eternas estão se derretendo. Agravando, ainda mais, a explosão demográfica nos últimos dois séculos, implica em mais produção de alimentos, o que requer maiores áreas destinadas à agricultura. Isso quer dizer mais desmatamento. Com menos florestas, teremos menos chuvas. Tudo isso é óbvio e ululante. Sem querer fazer trocadilhos: estou querendo fazer chover no molhado.

Lavoura à margem de um córrego. Mata ciliar completamente destruída.

Continuando o meu alerta. De nada adiantam os progressos econômicos e as benesses sociais se daqui a pouco não houver mais água. Não resolvem totalmente as caríssimas instalações de reuso, represas, barragens e caixas d'água. Se não chover não haverá água para enchê-las Eu, desde jovem e até hoje, venho cruzando sistematicamente por terra este nosso Brasil. É natural que, ao viajar ao Centro-Oeste e Sueste, tenha acompanhado as mudanças havidas na paisagem no decorrer das últimas décadas (desde 1944). Sempre que passo por uma ponte ou mesmo um simples mata-burro, saboreando a natureza, avalio tudo sem querer, principalmente as matas ciliares (a base de quase tudo isso), além de outras matas, cerrados, pastos, lavouras, etc. Em fevereiro de 2014, fui de automóvel a Xavantina, fazer parte da Festa Anual da Associação dos Pioneiros da Marcha para o Oeste, da qual faço parte. Na volta, ao passar pela longa ponte sobre o rio Paranaíba, divisa do estado de Minas Gerais e Goiás, vi com grande pesar o volume ínfimo das suas águas. Fiquei chocado. Aquilo era uma triste amostragem do que está acontecendo em toda a região. Nunca tinha visto tamanha secura. Diversas praias surgiram. Passo por ali há anos. Mais uma seca sem igual e poderemos substituir a ponte por um mata-burro.

Mata ciliar reduzida a um pequeno filete de árvores, insuficiente para cumprir o seu papel de proteção.

A intensidade e a velocidade do desmatamento, sem sombra de dúvida, representam suicídio bem próximo de boa parte de nossa espécie. É natural que todo empresário queira lucrar o máximo. Os ocupantes das terras não são exceções. Estes, na ânsia de extrair mais e mais, ficam cegos pela ganância e desmatam tudo. Para ganhar um pouco mais, percentualmente inexpressivo, atropelam também a matas ciliares, qualquer que seja o tamanho do rio, córrego ou mesmo "olho d'água". Uma verdadeira loucura.

"Logo a ponte poderá ser substituída por um mata-burro".

Estão acendendo o pavio de bomba de retardo debaixo dos seus rabos. Em breve eles e os seus filhos ficarão sem água, contribuindo assim para a secura geral. Tal cegueira tem explicação, em uma teoria que criei: quando o olho de uma pessoa cresce visando algum expressivo e sonhado prêmio, a cabeça passa a não entender mais nada. Só vê o lucro. Ficam completamente anuladas a razão, a inteligência, a cultura e a malandragem, nada mais funciona. Só o prêmio passa a interessar. São criadas confiantes justificativas. É incrível. Resumindo: quando o seu olho crescer, cuidado.

Pequenas nascentes formam córregos e que por sua vez formam os rios...

É importante entender que os rios não possuem água própria. Eles se nutrem quase totalmente dos milhares de riachos que coexistem nas suas bacias. Estes, por sua vez, nascem em modestos olhos d'água. Tais diminutos desmatamentos de pequenas propriedades, multiplicados por alguns milhares, juntamente com o volumoso, insensato e criminoso desmatamento da floresta amazônica vem provocando, agora, de forma inequívoca no sul e sueste do Brasil, agora com grande foco no estado de São Paulo, seca nunca vista com consequente falta de água nos reservatórios. Estamos caminhando inevitavelmente para o caos. Lembremos da nascente do nosso amado e histórico rio São Francisco, recentemente expostas na mídia. E agora a desgraça ocorrida na bacia do Rio Doce. Eu quase chego a chorar. Não é pra menos.

Uma nascente e suas águas cristalinas.

Com muita saudade, me lembro que há bem poucas décadas, entre os meses de dezembro e março, chuvas e chuviscos se revezavam ininterruptamente, dias e noites, por semanas.  Era costume se dizer "está invernando". Quanta água e quanto verde celebrando a  natureza. A cidade de São Paulo era conhecida como "a terra da garoa". Hoje ninguém mais sabe nem o que é garoa. Nada mais disso veremos graça ao "olho grande" do nosso infeliz e ignorante povo, que sofre de "lavagem cerebral" orquestrada por uns poucos loucos e vendidos. Sem saberem, se suicidam também.

Desmatamento.

Os urbanos, naturalmente enclausurados nas suas cidades, não tem como acompanhar bem tais mudanças. Que sorte (ou azar). O que os olhos não veem, o coração não sente. Agora, parece que estão começando a desconfiar. Já era tempo. Para reverter o nosso quadro trágico e simples, porém utópico. Primeiro seria acabar com o desmatamento da Amazônia e com a corrupção que anula qualquer fiscalização. Segundo, obrigar os ocupantes do resto das terras a reflorestar aos poucos, mas de maneira contínua, obedecendo metas obrigatórias. Tudo isso com incentivos, orientação e outros instrumentos a serem criados e aperfeiçoados. As matas ciliares e nascentes dos córregos teriam prioridade.

Reflorestar é preciso... e possível.

Ultimamente tenho visto documentários na TV a cabo, sobre casos de recuperação de riachos e olhos d'água que passaram a produzir água para os seus benfeitores. A recuperação é simples, retira-se todo o capim existente e cerca-se tudo para o gado não pisotear o solo. O resto é só esperar e deixar por conta da natureza. Em poucos anos a área se recupera bem.

Também vi documentários sobre recuperação de mangues, cujo procedimento é limpar, plantar e semear sementes e esperar. Após uns quatro a cinco anos surge um novo mangue, com 4, 5 metros de altura, indispensável berçário de um sem número de seres marinhos que representam a saúde dos oceanos, vitais para nós humanos.

Além dos casos documentados na mídia, pode-se ver na orla da lagoa Rodrigo de Freitas, ao lado do Copacabana, no Rio de Janeiro, mangues que ressurgiram com vitalidade, após trabalhos sistemáticos de grupos de entusiastas. Possui até vários bandos de capivaras. Há também recuperações em pequenos trechos no fundo ba baía de Guanabara.

Revitalização de mata ciliar.

A nossa esperança é que a mentalidade dos nossos políticos e ruralistas despertem e tomem medidas imediatas e efetivas, inicialmente as que dizem respeito à conscientização geral, que seria o primeiro passo para a solução. E isso enquanto há tempo, caso contrário o nosso Titanic afundará com uns na primeira classe e outros na terceira, com direito à orquestra tocando no convés uma conhecida marchinha carioca de Carnaval. "É hoje só, amanhã não tem mais". Tudo isso graças às pessoas ignorantes induzidas e enganadas, que votam em políticos omissos ou àqueles que se vendem e ruralistas que tudo veem e entendem, mas por ganância não querem enxergar a realidade. O pior cego é aquele que não quer ver.

Rio Xingu.

Por falar em água, voltemos ao rio Xingu, no seu Parque Indígena. Lá, de uns tempos pra cá, os índios sob pena de contrair doenças sérias e exóticas, estão impedidos de beber suas águas. Estão contaminadas por produtos tóxicos de centenas de córregos da sua bacia, que estão por sua vez cercados por vastas plantações de monoculturas, onde defensivos agrícolas acabam indo parar no leito dos rios e riachos, e por fim no Xingu.

A saúde do ambiente e de todos os humanos e animais daquela bacia sofre,m paulatinamente. Já se encontram em níveis inaceitáveis de toxidade. É preciso lembrar que a caça e a pesca é a principal fonte de alimentação dos índios.

Para contornar o problema, em quase toda a aldeia indígena existem poços artesianos cavados mata adentro, longe das margens daquele grande rio.



FLORESTA DA TIJUCA (REFLORESTAMENTO)

Encravada na cidade do Rio de Janeiro, encontramos o maciço da Tijuca, contra-forte da Serra do Mar, que acompanha quase toda a nossa costa oceânica. Nela existia exuberante mata pertencente à conhecida Mata Atlântica. Foi totalmente derrubada para o plantio de café e cana-de-açúcar, com o surgimento de várias fazendas. Das suas encostas desciam fartos ribeirões, fornecedores principais das águas da cidade. Entretanto, no final do Império, as águas começaram a escassear. O caos hídrico era iminente. Em 1861, D. Pedro II, para recuperar o abastecimento, contratou o major Archer para reflorestar toda a área. O imperador, inteligente, culto e interessado em modernidades, foi o nosso primeiro ambientalista efetivo, acredito. 

Antiga entrada da Floresta da Tijuca. A região foi desmatada no início do Século XVIII com o cultivo do café e cana-de-açúcar, a exploração de lenha e carvão. O período de maior devastação foi no início do Século XIX, em 1820, quando, de acordo com os dados históricos do Parque, propriedades com lavouras que tinham entre 5 e 100 mil pés de cafés se instalaram na região.

O major, com mais 13 escravos diretos, plantaram cerca de cem mil mudas no decorrer de 13 anos. Cobriu, com sucesso, aproximadamente 4 mil hectares. Com o tempo ressurgiu extensa, rica e nova mata Atlântica (secundária), com monumental vegetação e grandes árvores. Seria interessante para as pessoas que não a conhecem, fazer uma visita a ela. É impactante demais. A Mata Atlântica tem um sabor único, inigualável. É a maior floresta urbana do mundo, conhecida internacionalmente como Parque da Floresta da Tijuca, exemplo vibrante de reflorestamento. Um tesouro carinhosamente louvado e conservado pelos cariocas.

O Cristo Redentor é um dos monumentos que atrai os 2 milhões de visitantes anuais do Parque Nacional da Tijuca.

Uma das atrações escondidas no interior do Parque.