DESCENDO O RIO MEIA PONTE
DE ALOÂNDIA ATÉ GOIATUBA
UMA DAS MELHORES OPÇÕES PARA QUEM
QUER SAIR DA ROTINA
UMA DAS MELHORES OPÇÕES PARA QUEM
QUER SAIR DA ROTINA
por Paulo Castilho
Nos anos 70, quando eu morava em Aloândia, era aqui que eu vinha com a minha família nos finais de semana. Eu mal sabia nadar, mas com a ajuda de duas cabaças amarradas entre si por uma corda feita de couro de boi, presente que ganhei da Dona Nenem, eu já dava as minhas primeiras braçadas. Tal objeto era colocado na altura do meu peito, a corda atravessava de um lado ao outro, ficando as cabaças com a função de boias.
Esse cenário serviu hoje de ponto de partida dessa nossa nova viagem. Ficamos sabendo, através de moradores locais, que existe projetos de serem construídas pequenas usinas hidrelétricas na região, o que cobrirá uma grande quantidade de terras na região, já que a relevo não é assim tão irregular. Levando em conta que a população rural de Aloandia vive praticamente da criação de gado leiteiro e que a região não possui grandes matas (a região foi praticamente devastada para a criação de pastagem e pequenas lavouras), a formação de um lago não iria causar grandes estragos. Teriam sim que pensar em uma nova forma de ganhar dinheiro, já que a água cobrirá uma grande extensão de terra. O turismo na região seria uma boa fonte a ser explorada, já que nos dias de hoje isso nem passa pela cabeça das autoridades e moradores locais, apesar de ter uma belíssima cachoeira no município (e o rio, que poderia ser explorado de várias maneiras).
Ao lado da atual ponte que cruza o rio, estão os pilares da antiga ponte que ligava o município de Aloandia ao de Morrinhos. No período da seca, como pode ser visto na foto abaixo, o fundo do rio é visível de cima da ponte.
Fazendo uma exploração pelas margens do rio, encontramos a dona Romilda, que pescava de linhada em uma estreita parte do leito. Justamente na hora em que a avistamos ela havia acabado de fisgar um enorme peixe (um Piau), que nos mostrou orgulhosa. Se marido descansava sob a sombra de alguns pequenos arbustos da margem. Dona Romilda é irmã de uma antiga conhecida minha, a Rosilda, que na minha infância eu chamava carinhosamente de "Rusilda". Foi uma satisfação encontrá-la por ali.
Segundo dona Romilda, o rio já foi melhor de peixe, mas tem piorado com o passar dos anos. Também pudera. A mata ciliar da região é praticamente inexistente, além de fazerem a retirada de areia em um ponto logo abaixo de onde ela estava. Um bom projeto para a prefeitura local seria o repovoamento do rio, já que o número de pescadores por ali é grande. Um rio bom de peixe atrai pessoas de longe, o que acaba sendo um atrativo a mais para a cidade.
E lá estávamos nós, eu, Renato, Ernesto e Érica. Como é de costume, lá estava o casal (Ernesto e Érica) com sua imensa bagagem. Ele fala sempre que sou exagerado ao analisar o "equipamento" dele, mas entre os itens (que eu consegui ver) tinha lençol branco, travesseiros, colchão de ar para casal, roupinha pra dormir, equipamento de cozinha completo (detergente, esponjas de aço, panelas, pratos, tralheres, escorredor de macarrão..) e um kit completo de beleza. Descobri nesse dia que o Ernesto é meio metrosexual... dorme com máscara de pepino, meia e pijaminha.
Assim que saímos, na primeira curva abaixo da ponte existe um ponto de extração de areia e logo em seguida algumas corredeiras, dividindo o rio em dois braços, com um ilhota no meio. Era preciso remar forte e passar pela esquerda, desviando das pedras que estavam acima da linha d'água. O Ernesto e Érica, que estavam em um caiaque de dois lugares, passaram tranquilamente e eu os segui logo atrás. O problema é que o Renato, com pouca experiência e pouca força nos braços deixou seu caiaque ir pela direita, indo diretamente em direção às pedras que encabeçavam a pequena ilha. Como a correnteza no local era forte, eu só consegui perceber o problema alguns minutos depois, já que o caiaque que ele conduzia não era visível do ponto onde eu estava. Ernesto e Érica já estavam lá em baixo na curva do rio. Comecei a apitar e resolvi voltar rio acima, para ver o que havia acontecido com nosso companheiro.
A correnteza estava forte. Por um momento cheguei a pensar em desistir. Resolvi fazer o percurso pelo outro lado da ilha, contornando bem próximo da margem, onde a força da água era menor. Com muito custo encontrei o Renato, na ponta da ilha e com seu caiaque recolhido na margem. Ele estava meio assustado. Nesse momento chegou Ernesto pela margem oposta. Ele havia deixado seu caiaque num ponto abaixo e veio correndo pela margem. Convenci o amigo Renato a voltar com sua embarcação pelo ponto em que eu havia subido e continuamos a aventura.
A correnteza estava forte. Por um momento cheguei a pensar em desistir. Resolvi fazer o percurso pelo outro lado da ilha, contornando bem próximo da margem, onde a força da água era menor. Com muito custo encontrei o Renato, na ponta da ilha e com seu caiaque recolhido na margem. Ele estava meio assustado. Nesse momento chegou Ernesto pela margem oposta. Ele havia deixado seu caiaque num ponto abaixo e veio correndo pela margem. Convenci o amigo Renato a voltar com sua embarcação pelo ponto em que eu havia subido e continuamos a aventura.
Esse trecho do rio, de Aloandia até Goiatuba, não é um dos piores. Já enfrentamos trechos amedrontadores. Considero que ele seja ideal para remadores com pouca experiência (acompanhados por outros com experiência, é claro). Na foto acima é possível ver um ponto que requer uma certa atenção, já que fica em uma região com serra, em uma curva e com bastante pedra submersas. No período da seca deve ser complicado a travessia por aqui.
Ernesto Renovato
Paulo Castilho
Neste ponto o rio volta a formar outra ilha, que em nossos levantamentos havia sido cogitada a ser um ponto para nosso acampamento. Como ainda havia muita luz, decidimos optar por outras ilhas mais abaixo. Antes disso, resolvemos fazer uma pequena exploração na ilha.
A areia branca dava uma ideia da beleza que deve ser essa ilha no período de estiagem, quando o nível da água diminui e praias se formam pelas margens.
Deixamos nossas embarcações na margem e entramos por uma pequena trilha, que levava ao interior da ilha. Lá encontramos uma pequena habitação e uma pequena roça em volta dela.
Prosseguimos com nossa aventura. Era preciso encontrar uma outra ilha para passar a noite. Decidi seguir um pouco à frente em busca de um lugar ideal. Subitamente me surpreendi com um grupo de enormes capivaras que tomavam sol em uma pequena ilhota logo abaixo. Ao me verem aproximando, elas pularam na água e atravessaram o rio em direção a uma enorme serra na margem oposta. Como a ilhota era alta e de vegetação rasteira, decidi que ali seria um local ideal para a nossa primeira noite de descanso.
A chuva era uma ameaça constante e em caso de elevação do nível da águas, a ilha seria uma boa defesa. O grande problema é que ela só tinha uma árvore e eu não estava com minha barraca e sim com uma rede. Eu teria que improvisar. Por sorte, a árvore tinha uma galha no sentido horizontal e foi ali que amarrei minha rede.
Enquanto meus companheiros armavam suas barracas, eu já tinha amarrado minha rede, colocado a lona sobre ela e fui em busca de lenha para fazer uma fogueira.
Na foto acima é possível notar que as capivaras praticamente nivelaram o terreno vegetal onde as barracas foram armadas. Ao fundo, em um nível inferior, nota-se a árvore onde armei minha rede.
O único problema do local são as pulgas deixadas pelas capivaras e que infestam o solo. Mas não encontraríamos um local melhor do que este para acampar. Na margem esquerda uma enorme serra coberta por vegetação nativa, da margem direita era possível ouvir o gado e bem ao lado da pequena ilha onde ficamos, havia uma outra pequena ilhota, só que coberta por vegetação.
Barracas montadas, fogo aceso, janta na panela.
No começo da noite recebi a visita dos companheiros. Nada como uma boa conversa depois da janta. Ao longe ouvia-se trovões. Era possível que chovesse naquela noite, o que seria um transtorno para que estava nas barracas, já que eles não haviam levado lonas plásticas. O acumulo de água no solo e até mesmo a água que vem de cima é sempre um problema para as barracas de hoje. Por sorte a chuva não veio.
A ausência de mosquitos tornou agradável o nosso bate-papo noturno.
Para proteger o fogo da brisa constante que soprava, construí uma pequena barreira com pesados de madeira.
O fogo companheiro durou a noite toda. Eu a alimentava deitado em minha rede.
Na foto abaixo é possível notar a galha horizontal onde amarrei minha rede.
A noite chegou e com ela o silêncio. Nessa hora, a melhor coisa a se fazer é dormir.
O barulho da água junto com a escuridão funcionam como um poder hipnótico.
Acordei por volta das 5:30 da manhã. Gosto de ver o sol nascendo. Peguei minha máquina fotográfica e fiquei aguardando que ele surgisse no horizonte. Aos primeiros raios, comecei a chamar pelo Ernesto e pelo Renato, que continuavam em suas barracas e se recusavam a sair.
Quinze minutos depois o Renato apareceu com sua vara de pesca. Ernesto continuava hibernando. Acredito que ele tenha achado coisa melhor pra fazer dentro da barraca do que ver o sol despontando no horizonte.
Na foto abaixo, com o céu já a pique, Ernesto surge risonho. Ao fundo, por trás da segunda barraca, Renato insistia em continuar lavando as minhocas.
Como a fogueira continuava ativa, resolvemos colocar nossas roupas para secar no calor do fogo. Assim foi possível ter roupas secas... com cheiro de fumaça.
Era hora de prosseguir. Nessa foto clássica, os aventureiros se preparam para a segunda etapa do passeio. É preciso destacar aqui o conforto e segurança que os caiaques da Intex proporcionam. Para rios calmos, como foi o caso dessa etapa, não existe embarcações melhores.
O único problema é a vulnerabilidade. Qualquer descuido pode resultar em pequenos furos. No final da aventura constatei que dois deles estavam com pequenos furos.
Quatro horas de remadas depois, uma pausa para provar a farofa de carne preparada pela Érica. Paramos em uma pequena enseada na margem direita.
Na foto acima nós paramos para "estudar" a técnica de remada desenvolvida pelo amigo Renato. Ele consegue 'simular' remadas onde o remo mal toca a superfície liquida do rio... o caiaque segue praticamente levado pela corrente da água. Segundo ele, cansa menos e não espirra água. Sensacional!!! Vou experimentar em minha próxima viagem.
Nossa chegada na ponte de Goiatuba. O local é bastante visitado por pescadores. É possível encontrar muito lixo no local, que com certeza foi deixado por eles. Abaixo, vestígios de um acampamento recente.
O nosso resgate na ponte de Goiatuba havia sido combinado com o amigo e morador de Aloandia, Luciano Almeida, que ficou de nos buscar com os carros do Renato e Ernesto, que haviam ficado naquela cidade. Como havia sido combinado, lá estava ele na hora marcada. Voltamos para Aloandia e ele nos surpreendeu com um farto lanche, oferecido por sua família. Foi ótimo, estávamos famintos.
Quero aproveitar o momento para agradecer ao Luciano e a todos os amigos que encontramos em Aloandia. O carinho e a atenção a nós dispensadas nos fizeram sentir em casa. Eu sempre defendi a minha cidade (Aloandia) e vou continuar fazendo isto até o final dos meus dias.
Saciada a fome, era hora de voltarmos para Goiânia.
Em tempo, também preciso agradecer aqui aos amigos Ernesto e Renato. Depois que nos conhecemos muito chão (ou seria água) rolou. Um agradecimento especial ao Renato, que não vê dificuldades em estar sempre nos socorrendo (resgatando) das beiradas de rios mais distantes. Nesse trecho tivemos a oportunidade de contar com sua presença. Precisamos fazer isso mais vezes (você precisa nos ensinar aquela sua técnica de remada).
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