No dia seguinte, era hora de preparar o equipamento. Por sorte encontrei algumas ramas de chá no quintal da casa do Zezé... erva-cidreira (de rama e folha), que peguei em grande quantidade e acondicionei em embalagens plásticas. Seriam parte do meu cardápio nos dias seguintes. Optei por abrir mão do leite e café em pós que eu havia levado.
Aproveitei para colher informações sobre a região e sugestões de possíveis lugares onde eu poderia montar meu acampamento. Me disseram que a região na direção do rio Castelão não era indicada devido ao fato de onças terem sido avistadas no local. Segundo eles, os locais mais indicados para a minha estadia seria para o lado do rio Maranhão, que está bem mais habitado e com isso eu correria menos perigo de ser surpreendido por algum animal.
A região do rio Castelão tem mata abundante, mas o grande problema é o solo, formado de uma terra branca cheia de pequenas pedras.
Durante a limpeza do terreno acabei cometendo o pecado de derrubar alguns casulos de minhocuçus, que são abundantes no local.
Conhecidas cientificamente pelo nome de Rhinodrilus Alatus, as populares Minhocuçus são minhocas que podem atingir entre 40 e 60 centímetros e ter uma largura de até 1,4 cm.
A Minhocuçu possui uma cor entre o preto e ligeiramente avermelhado e são hábeis em produzir uma quantidade e qualidade de húmus incomparáveis, mesmo vivendo a não mais do que alguns centímetros abaixo da terra.
A minhocuçu é uma espécie típica da região sudeste do país, bastante apreciadora das regiões do cerrado brasileiro e de outras regiões com solo fértil e rico em matéria orgânica.
Barraca montada. Agora era hora de providenciar uma mesa. Cortei alguns galhos (abundantes na árvore conhecida como Carvoeira), o que minimizou os danos na natureza: cortar galhos, nunca árvores.
O primeiro dia foi praticamente ocupado com a montagem do acampamento e um pequeno passeio de reconhecimento pela mata.
O grande problema de se deitar cedo é que se acorda cedo também. Acordava todos os dias por volta das 4 horas da manhã. A sorte é que eu havia levado o meu Kindle e, enquanto o sol não aparecia, eu ficava ali lendo alguma coisa.
Todos os dias em que fiquei acampado por ali, uma vara de porcos passava por uma trilha logo abaixo de onde eu estava... um casal e dois filhotes. No primeiro dia eles ficaram me olhando, curiosos com o invasor. A partir do segundo dia passavam sem nem ao menos olhar para mim.
Nos dias seguintes me dediquei a explorar o lago para o lado do rio Maranhão, uma vastidão sem fim de água que chega a dar um frio na barriga quando se está lá no meio. De manhã era fácil remar, difícil era na parte da tarde, quando as marolas começavam a se formar
Eu raramente ficava sem meu equipamento de filmagem/foto, mas certa tarde, enquanto tirava um cochilo em minha rede, fui acordado pela algazarra de um bando de macacos na palmeira ao meu lado. Nem pensei em me levantar para pegar o equipamento, os macacos com certeza iriam se assustar e iriam embora. Preferi permanecer imóvel na rede e observá-los. Eram macacos guaribas. Estavam se alimentando com os côcos da palmeira.
A vegetação típica do local onde fiquei era formada basicamente por três tipos de árvores: palmeiras, carvoeira e esse outra árvore com o tronco encoberto por espinho, que lembra muito as paineiras.