BANDEIRANTES...
HERÓIS OU BANDIDOS?
No Brasil, o extermínio e a escravidão dos índios não seriam possíveis sem o apoio dos próprios índios, de tribos inimigas. Eles forneceram o suporte militar às bandeiras, os assaltos que os paulistas faziam ao interior para conseguir escravos.
As bandeiras são geralmente apontadas como a maior causa da morte da população indígena depois das epidemias. De todo modo, havia em cada uma no mínimo duas vezes mais índios - normalmente dez vezes mais. Sobre a mais famosa delas, a que o bandeirantes Raposo Tavares empreendeu até as aldeias jesuítas de Guairá, no extremo oeste paranaense, os relatos apontam para uma bandeira formada por 119 paulistas e 2 mil índios tupis.
Praça do Bandeirante, Goiânia (GO)
O que se ouve falar por aí é que os bandeirantes eram facínoras que exploravam o interior do país em busca de ouro, pedras preciosas e índios, incendiavam aldeias, praticavam execuções aleatórias e até mesmo jogavam o corpo de velhos, crianças e doentes para os cães.
Em Goiânia, onde existe uma praça que é popularmente conhecida como "Praça do Bandeirantes", houveram até mesmo alguns movimentos para que a estátua de Bartolomeu Bueno fosse retirada do local.
É preciso rever a história dos bandeirantes e dar a eles um novo julgamento.
As histórias dos massacres realizados pelos bandeirantes (principalmente a bandeira de Raposo Tavares) é cheia de exageros. Conta-se que Raposo deixou um saldo de "100 a 150 mil mortos e feridos", aprisionaram entre 40 a 60 mil índios em três anos, ou ainda que 15 mil índios teriam sido mortos.
Quando Raposo Tavares atacou as aldeias de Guairá, em 1628, os padres Justo Mansilla e Simão Masseta foram destacados para seguir o grupo do bandeirantes durante a volta para São Paulo. A idéia era testemunhar os abusos dos paulistas contra os índios e montar uma acusação formal. Baseando-se no relato que os dois escreveram, o tamanho da matança pode cair muito - para menos de mil, menos de cem, menos de vinte mortes. Conforme o relatório que eles escreveram, o total de mortes dos ataques às aldeias jesuíticas foi de 14 PESSOAS.
Os índios abandonaram as missões do sul por falta de confiança nos padres e cansaço de suas normas cristãs. A principal arma dos bandeirantes foi disseminar entre os índios guaranis a esperança de uma vida melhor perto do Atlântico.
As expedições ao sul foram só o início das polêmicas aventuras de Raposo Tavares. Entre 1639 e 1642, ele foi à Bahia e a Pernambuco ajudar a expulsar os holandeses que tentavam montar colônias no Brasil. na volta, a bandeira da qual fazia parate viu-se sem comida. A solução foi comer pedaços de couro, raízes de bananeira e os poucos cavalos que restavam para o grupo. De volta para São Paulo, o bandeirante partiu para o norte do Paraguai em 1648, acompanhado de um grupo de 1.200 índios, mamelucos e brancos. Atacados pelos jesuítas, eles desviaram o caminho, chegando à Amazônia peruana. Navegaram pelos rios Mamoré, Madeira e Amazonas, desembarcando em Belém. Passaram três anos atravessando florestas descalços, seminus, sujos e famintos. Diante dos ataques de índios inimigos, dormiam escondidos, enterrados na areia. Com o grupo reduzido a cerca de cem pessoas, Raposo tavares só conseguiu voltar para casa em 1651, quando completou 10 mil quilômetros de peregrinação pela América do Sul.
Convenhamos: um homem como esse não soa como um herói?
(Do livro "GUIA POLITICAMENTE INCORRETO DA HISTÓRIA DO BRASIL", de Leandro Narloch, Editora Leya)