quarta-feira, julho 13, 2011

EXPEDIÇÃO SUIÁ-MISSÚ / JARINAH

As duas embarcações, unidas por dois braços de madeira. Engenhoca inventada por Sergio para dar maior estabilidade aos barcos nos grandes rios da região.

Faz um ano que o incansável Sergio Vahia vem fazendo os preparativos para uma nova expedição pelo Xingu. O projeto é sair da aldeia dos índios Suiás, dos quais Sergio foi o segundo branco a fazer contato no dia seguinte aos irmãos Villas Boas, história que já foi contada aqui em nosso blog em artigo anterior.


A expedição será dividida em duas partes, fazendo parte da equipe Sergio Vahia, Paulo Castilho, Odone Ferrão e um dos filhos do cacique Kuiuci. Sairemos da aldeia Suiá pelo rio Pacas, entraremos no rio Suiá Missú, que desemboca no rio Xingu, onde subiremos até a aldeia dos índios Trumais e depois desceremos até o posto de Diauarum. Alí faremos contato com o amigo Percinoto, no Rio de Janeiro, que se unirá a nós na balsa próxima a São José do Xingu, de onde partiremos para a segunda parte da expedição.

Braçadeira para prender as madeiras nos barcos... projetada e executada por Sergio Vahia.

A SEGUNDA PARTE - Da balsa iremos até uma outra aldeia dos índios Trumais, cujo cacique é Ararapan. Alí entraremos pelo rio Jarinah, que ficou conhecido após o acidente com o avião da Gol, cuja queda foi notada pelo gerente da fazenda Jariná. Passaremos bem próximos de onde a FAB abriu clareira para recolher os destroços da aeronave.


Descendo pelo Jarinah chegaremos ao rio Xingu, próximo das corredeiras de Von Martius e onde ficava a antiga aldeia de Rauni.

Após a remarcação do Centro Geográfico do Brasil, feita por Sergio Vahia em 2008 (ver artigo neste blog), Rauni resolveu mudar sua aldeia para a região, que é bem mais saudável que a anterior.

Base para colocação do motor 15HP, que será usado somente nas subidas de rio. A maior parte do percurso será feita com a utilização de remos.

Saindo do rio Jarinah, subiremos pelo Xingu até o ponto da picada que dá acesso ao Centro Geográfico (e onde fica a nova aldeia). Visitaremos o local e depois subiremos novamente até a balsa. Percorreremos 800km por rios.

Presentes já embalados e divididos por aldeias.

Nossa saída está programada para amanhã, 14 de julho de 2011, com previsão para término de 60 dias. É possível fazer todo o percurso em no máximo um mês, mas não é o intuito de nossa equipe. Faremos a viagem de maneira tranquila, remando poucas horas por dia e aproveitando ao máximo nossa estadia na região. Visitaremos aldeias, para as quais estamos levando muitos presentes.

Motor 15HP.

Um artigo com mais detalhes será postado aqui no meu retorno.

Material de pesca que será doado pelas aldeias por onde passaremos.

Tachos de alumínio, de grande utilidade para os índios.

Linhas para trabalhos manuais.

Gêneros alimentícios, que também serão doados para os silvícolas. Mais de 500kg!!!!

Caixas de mantimentos, que serão usados por nós durante a viagem. A idéia é usar o mínimo possível de comida da região (caça e pesca).

domingo, junho 26, 2011

BANDEIRANTES

BANDEIRANTES...
HERÓIS OU BANDIDOS?

No Brasil, o extermínio e a escravidão dos índios não seriam possíveis sem o apoio dos próprios índios, de tribos inimigas. Eles forneceram o suporte militar às bandeiras, os assaltos que os paulistas faziam ao interior para conseguir escravos. 

As bandeiras são geralmente apontadas como a maior causa da morte da população indígena depois das epidemias. De todo modo, havia em cada uma no mínimo duas vezes mais índios - normalmente dez vezes mais. Sobre a mais famosa delas, a que o bandeirantes Raposo Tavares empreendeu até as aldeias jesuítas de Guairá, no extremo oeste paranaense, os relatos apontam para uma bandeira formada por 119 paulistas e 2 mil índios tupis.

 Praça do Bandeirante, Goiânia (GO)

O que se ouve falar por aí é que os bandeirantes eram facínoras que exploravam o interior do país em busca de ouro, pedras preciosas e índios, incendiavam aldeias, praticavam execuções aleatórias e até mesmo jogavam o corpo de velhos, crianças e doentes para os cães. 

Em Goiânia, onde existe uma praça que é popularmente conhecida como "Praça do Bandeirantes", houveram até mesmo alguns movimentos para que a estátua de Bartolomeu Bueno fosse retirada do local.

 
É preciso rever a história dos bandeirantes e dar a eles um novo julgamento.
As histórias dos massacres realizados pelos bandeirantes (principalmente a bandeira de Raposo Tavares) é cheia de exageros. Conta-se que Raposo deixou um saldo de "100 a 150 mil mortos e feridos", aprisionaram entre 40 a 60 mil índios em três anos, ou ainda que 15 mil índios teriam sido mortos. 

Quando Raposo Tavares atacou as aldeias de Guairá, em 1628, os padres Justo Mansilla e Simão Masseta foram destacados para seguir o grupo do bandeirantes durante a volta para São Paulo. A idéia era testemunhar os abusos dos paulistas contra os índios e montar uma acusação formal. Baseando-se no relato que os dois escreveram, o tamanho da matança pode cair muito - para menos de mil, menos de  cem, menos de vinte mortes. Conforme o relatório que eles escreveram, o total de mortes dos ataques às aldeias jesuíticas foi de 14 PESSOAS.

Os índios abandonaram as missões do sul por falta de confiança nos padres e cansaço de suas normas cristãs. A principal arma dos bandeirantes foi disseminar entre os índios guaranis a esperança de uma vida melhor perto do Atlântico.


As expedições ao sul foram só o início das polêmicas aventuras de Raposo Tavares. Entre 1639 e 1642, ele foi à Bahia e a Pernambuco ajudar a expulsar os holandeses que tentavam montar colônias no Brasil. na volta, a bandeira da qual fazia parate viu-se sem comida. A solução foi comer pedaços de couro, raízes de bananeira e os poucos cavalos que restavam para o grupo. De volta para São Paulo, o bandeirante partiu para o norte do Paraguai em 1648, acompanhado de um grupo de 1.200 índios, mamelucos e brancos. Atacados pelos jesuítas, eles desviaram o caminho, chegando à Amazônia peruana. Navegaram pelos rios Mamoré, Madeira e Amazonas, desembarcando em Belém. Passaram três anos atravessando florestas descalços, seminus, sujos e famintos. Diante dos ataques de índios inimigos, dormiam escondidos, enterrados na areia. Com o grupo reduzido a cerca de cem pessoas, Raposo tavares só conseguiu voltar para casa em 1651, quando completou 10 mil quilômetros de peregrinação pela América do Sul. 

Convenhamos: um homem como esse não soa como um herói?

(Do livro "GUIA POLITICAMENTE INCORRETO DA HISTÓRIA DO BRASIL", de Leandro Narloch, Editora Leya)

PAULO BERTRAN

A SUA OBRA TÃO VALIOSA

Prefácio de Bernardo Élis

Desde esta vista de fim de Século a Milênio podemos afirmar que o senhor Paulo Bertran possui uma bibliografia numerosa e das mais importantes para o Brasil e o mundo. Seus trabalhos versam sobre a região Centro-Oeste do Brasil, sobre a qual, se os estudos e registros não são tão escassos, são esparsos e não divulgados. O autor vem se dando a esse trabalho exaustivo de juntar documentos e daí passar a outra fase mais difícil, que é comentá-los e interpretá-los com sabedoria e proficiência.

Admirador que sou de Paulo Bertran, conheço todos os seus trabalhos, desde o primeiro editado, "Formação Econômica de Goiás" (1978) até este que agora tenho em mãos, intitulado "História da Terra e do Homem no Planalto Central", ainda em estado de originais. Embora não tendo podido localizar toda a sua produção, assim de memória enumero essa primeira obra, a segunda, "Uma Introdução à História Econômica do Centro-Oeste do Brasil" e um estudo sobre Niquelândia, a São José do Tocantins de outrora, cujo título e cujo exemplar não me foi possível encontrar, na balbúrdia de minha livraria.

Daí o autor abre o seu vôo para grandes alturas a larguras, em amplos estudos como este que estou comentando, mais outro, inédito, nas mesmas condições em que faz o levantamento do desenvolvimento do Oeste através de fotografias a gravuras e finalmente esse livro interessantíssimo, também inédito, que é "A Ilustração nos Sertões" (Fim de Século). Esses três estudos citados acima abordam o fato histórico com precisão, mas procura relacioná-los de modo global com o Brasil, a América e o mundo, enriquecendo-os com peculiaridades, pormenores, informações da mais alta significação cultural. Isso faz sua leitura agradável e excitante.

Não creio que qualquer pessoa ao ler um desses três livros editados e os outros três inéditos, deixe de interessar-se pela história do Brasil Central e não prossiga na cata de mais largas informações. Os livros têm sabor de aventura.

O professor Cristóvam Buarque, ex-reitor da Universidade de Brasília, no terceiro livro editado por Paulo Bertran, escreveu-lhe a orelha e suas palavras foram muito felizes por atingir o cerne da preocupação do autor. Diz: "Bertran não limitou-se porém a um recorrido bibliográfico e conseqüente descrição do fenômeno de seu estudo e o segundo grande mérito de seu livro é a abrangência analítica. Graças a isso, situou a região dentro do contexto da economia brasileira e internacional. Ao fazer assim, o autor evitou o grave erro de historiadores menos formados, que têm vida própria no seu objeto de estudo. Graças à sua formação teórica, foi capaz de entender e descrever a economia do Centro-Oeste desde o início, como parrte de um processo econômico mais amplo do capitalismo brasileiro e mundial."

Investigador inteligente a diligentíssimo, Paulo Bertran tem revirado e rebuscado o rebotalho de nossos arquivos, depois dos saques a que os submeteram amigos historiadores, colhendo muita coisa valiosa, pois é norma consagrada que nossa curiosidade está na razão direta de nossa cultura. Além disso tem sido incansável na descoberta de papéis esquecidos nos valiosos arquivos de além-mar e que novas luzes deitam à história goiana. Porque essa história de pesquisa é muito importante. O autor verdadeiramente dotado do dom de pesquisar quase que intui, adivinha quase os acontecimentos, por indícios subtilíssimos que a tecnologia não pôde ainda ensinar, mas que, graças a um instinto especial, o pesquisador fareja e detecta como o faz Paulo Bertran.

O estudo da obra desse autor me comove porque embora desde cedo tivesse eu o dom da pesquisa a embora meu pai tivesse curiosidades históricas (especialmente sobre Goiás), eu nunca pude obter textos históricos referentes a Goiás. O primeiro que me caiu nas mãos foi a "Súmula de História de Goiás", de Americano do Brasil, edição príncepe, 1932, obra que li de empréstimo de meu primo Sílvio Curado que a obtivera por prêmio a concurso efetuado no Liceu de Goiás, naquele ano. Tal obra me abriu os olhos para os consagrados historiadores goianos, cujos livros não tinham merecido novas edições e cujos exemplares eram inalcançáveis por aqui. Só em 1940 vim a ler a obra do professor Colemar Natal a Silva e somente agora, no governo do senhor Irapuã Costa Júnior pude ler Alencastre, Cunha Matos e Silva e Souza, os dois primeiros dados a lume por iniciativa desse Governo, nesse particular merecedor de nossa eterna gratidão. Também Saint-Hilaire só li tardiamente. E essas dificuldades em obter textos históricos sobre Goiás aconteciam comigo, o faminto de leitura. O que dizer então das outran pessoas - Por isso quero frisar bem - o Governo deve editar periodicamente os livros sobre Goiás, tornando-os acessíveis a todos.

Quando escrevi "Chegou o Governador", primeira tentativa no Brasil Central de fazer romance histórico, encontrei dificuldades quase intransponíveis em todos os aspectos, especialmente no tocante a alimentos, trajes, música, dança, armas de fogo, mobiliário e mesmo vida cotidiana. A solução foi valer-me de exemplos de outras capitanias, especialmente Minas Gerais, Bahia e Rio de Janeiro. Era minha intenção fazer um capítulo ou mais sobre os vadios tão numerosos e decisivos na vida brasileira, mas a ausência de informações restringiu minha ambição a uma simples criação do mundo dos vadios como um amplo a generalizado pano de fundo. Ainda em 1976, ao escrever o livro "Estado de Goiás", para a coleção Nosso Brasil, Bloch Editora, Rio, ao abordar o assunto referente a sesmarias, à página 31, afirmo que "elas (as sesmarias) não passavam de centena e meia, das quais talvez nenhuma fora devidamente medida e confirmada". Baseava-me numa monografia sobre sesmarias escrita (não publicada) por um alto funcionário público responsável pelo assunto. E estava errado, como nos mostra o livro de que se fala!

Ao senhor Paulo Bertran devem-se estudos admiráveis sobre sesmarias como os do presente livro; cabe-lhe a descoberta de escritos desconhecidos e valiosíssimos, como os do capitão-mor de Vila Boa, Antônio de Sousa Telles de Menezes, ou aquele interessantíssimo episódio da chegada do capitão-general D. José de Almeida a Formosa, 1772. Graças a Paulo Bertran a administração dos Cunha (Luís, Tristão e João Manoel) tomaram outra dimensão, sobretudo no tocante à urbanização de Vila Boa. Além disso, Paulo Bertran nos dá notícias precisas sobre obras fundamentais da vida goiana, arquivos, documentos e outras fontes de informação. São livros indispensáveis.

Quem me dera pudesse ter contado com as obras de Paulo Bertran, quando elaborei o meu "Chegou o Governador".

Que fique aqui a recomendação - editem-se a reeditem-se copiosamente as obras que tratem de Goiás e do Brasil Central.

Ao autor, meus agradecimentos, em nome do meu povo, por essas realizações que não têm preço nem louvores que paguem.

 Para fazer download do livro:


quinta-feira, junho 23, 2011

XIII FICA - CIDADE DE GOIÁS


NADA É POR ACASO

por Paulo Castilho

Falar das coincidências que acontecem em minha vida seria chover no molhado. Para quem acompanha meu blog, que já leu os primeiros artigos que escrevi, já sabem de histórias que poderiam parecer mentira para a grande maioria. Na verdade, essas coincidências continuam acontecendo no meu dia-a-dia. Dizem que colhemos aquilo que plantamos. Tento cultivar as melhores sementes e tenho colhido bons frutos.

Um exemplo claro do que estou dizendo é que um dos meus sonhos sempre foi participar do FICA (Festival Internacional de Vídeo e Cinema Ambiental), que acontece anualmente na cidade de Goiás. Vários fatores sempre me impediram de realizar o sonho. Neste ano, sem que eu fizesse o mínimo esforço, fui convidado para trabalhar dez dias durante o evento. Não pensei duas vezes e aceitei. Fiquei encarregado de auxiliar os trabalhos no Teatro São Joaquim, onde os filmes estariam sendo exibidos. Também participei de todos os debates com os cineastas, que aconteceram no salão do Hotel Casa da Ponte.

 Hotel Casa da Ponte, onde aconteceram os debates

Posso afirmar que foram dez dias de puro prazer. Apesar da carga horária puxada, não me senti nem um pouco cansado. Confesso que mesmo agora, passado quatro dias do final do Festival, ainda me encontro "elétrico" escrevendo esse artigo. Quero aqui agradecer às pessoas que tornaram possível a realização desse sonho, especialmente ao amigo Alexandre (Homem de Melo) e a toda nossa equipe, que se empenhou para auxiliar na realização do evento.

Prof. Bertran

No ano de 2001 tive a honra e o prazer de me tornar amigo do historiador e pesquisador Paulo Bertran, um apaixonado pela cidade de Goiás. Foi através de um convite do "professor" Bertran que tive a honra de participar de uma expedição à Cidade de Pedras.
Redescoberta em 2002 pelo pesquisador, a Cidade de Pedra é a maior do país, ocupando uma área de 500 hectares na Serra de São Gonçalo, ao lado da Serra dos Pirineus. Ela foi descoberta no ano de 1871.

 Durante o pouco tempo de minha amizade com o "mestre" Bertran, pude notar o entusiasmo com que ele fazia suas pesquisas (e olha que ele dizia que eu é que era o entusiasmado), seu discurso antes da partida dos três grupos que fariam o levantamento da região da Cidade de Pedras. Sua frase final ainda ecoa em meus ouvidos: "Avante Bandeirantes Modernos".

 Cidade de Pedras

Infelizmente, Bertran nos deixou no dia 3 de outubro de 2005, aos 56 anos, vítima de parada cardiorespiratória. Como era de seu desejo, ele foi sepultado na cidade de Goiás no cemitério São Miguel, no jazigo da família Fleury. Na época, devido a compromissos profissionais, não pude participar da cerimônia e nunca tive a oportunidade de visitá-lo no cemitério, apesar de ter passado pela cidade umas duas vezes.
Em minha estada na cidade, durante o XIII FICA, após cumprir minhas obrigações no evento, resolvi dar um pulo até o cemitério, já que me encontrava completamente sem sono e "elétrico" (já se passava das 3 horas da madrugada). Caminhar por aqueles becos estreitos, calçamentos de pedras e iluminação fraca dava um clima de nostalgia... parecia que eu estava em um filme. Ventava muito e a temperatura estava bem baixa. Foi uma atitude tomada repentinamente, sem muito pensar. Talvez eu não tivesse outra oportunidade para fazer a visita que eu estava devendo.

A visão que eu tinha das ruas.

Chegando ao portal do cemitério, após uma oração de agradecimento por todas as oportunidades que tenho tido (acredito que o amigo Bertran tem trabalhado para que isso aconteça), terminei com o pensamento: "Se o senhor estiver me ouvindo, por favor, dê um sinal". Como nada aconteceu, resolvi retornar à pensão onde estávamos hospedados. Logo iria amanhecer e o batente seria duro.

Ao invés de voltar pelo caminho mais fácil, resolvi voltar pelos becos, onde eu me sentia muito mais confortável. Foi quando notei que vinha em minha direção, lá embaixo no final da estreita rua, uma garota com um blusão de frio. Para evitar assustá-la, resolvi passar para a calçada oposta. Ao cruzar pela jovem, notei que ela chorava compulsivamente. Pensei se tratar de uma briga de namorados. Caminhei mais alguns passos, passando por ela sem encará-la, quando fui surpreendido por um homem que saiu de um beco transversal e que voltou imediatamente ao me ver. Pensei logo na possibilidade de ele ter feito alguma coisa com a jovem. Me virei na direção dela e notei que a mesma não havia dado um só passo do ponto onde a tinha visto pela última vez, e estava virada para a minha direção ainda em prantos. "Moça, aquele cara fez alguma coisa com você?", indaguei. "Não, eu estou perdida", respondeu ela.
Me aproximei da garota e ofereci ajuda. Assustada, ela se afastava com a minha aproximação. Me disse que estava hospedada no Hotel Raios do Sol. Como eu não conheço a cidade, falei para que ela me seguisse e que pediríamos informações ao primeiro que encontrássemos.

Após caminhar alguns metros, com a garota me seguindo alguns passos atrás, resolvi bater na porta de uma casa de onde se ouvia música. Pedi informações aos moradores, que assustados com o choro da jovem me questionaram o que estava acontecendo. Após as explicações, me indicaram como chegar ao hotel.

 

O nome dela era Bianca, moradora do aldeia do Vale (Minha teoria em relação a jovens que moram em condomínios fechados é que eles vivem em um mundo irreal e quando saem para fora dos muros, sentem-se meio que perdidos. amedrontados).
Chegamos ao hotel e só fui embora quando a ví do lado de dentro. Cheguei em casa (na pensão onde estávamos hospedados) e acordei meus companheiros. Eu precisava contar aquela história para alguém. Ficaram impressionados.

No dia seguinte, de volta ao trabalho, quando saia do teatro, fui surpreendido pela presença da Bianca, que me agradeceu pela força que dei a ela naquela madrugada.

Teria sido a Bianca mais uma coincidência, ou foi o "sinal" que pedi para o amigo Paulo Bertran. Dá até pra ver aquele sorriso maroto que ele costumava dar de vez em quando.
Seja o que for, nada acontece por acaso.


 

terça-feira, junho 21, 2011

AGEPEL ANUNCIA FILMES VENCEDORES DO XIII FICA


Após dez dias trabalhando no FICA, eis-me de volta ao blog.
Em breve voaltarei com as postagens diárias. Segue abaixo o resultado de mais um Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental:

UM LADO NEGATIVO DO FESTIVAL

Durante os dez dias que estive na cidade de Goiás, pude constatar alguns problemas que parece não preocupar as autoridades locais, um deles é a poluição do Rio Vermelho, que recebe esgoto sem tratamento de pequenos afluentes que cortam a velha cidade. Em um fórum que participei, disseram que está sendo criado o Comitê da Bacia do Rio Vermelho, que resolverá esse e outros problemas do manancial. O meu medo é que aconteça o mesmo que está acontecendo com o rio Meia Ponte aqui de Goiânia... o comitê existe mas não faz nada, nem mesmo tem uma sede própria.


 Várias luzes que iluminam as ruas da velha cidade ficaram ligadas o dia inteiro. Vários postes estão sem lâmpadas ou queimadas. Em muitos prédios públicos, onde aconteceram eventos, as lâmpadas ainda são incandescentes e não foram substituídas por lâmpadas econômicas (florescentes).
Mas o maior problema que pude constatar foi em termos de segurança. A polícia militar local não está preparada para lidar com turistas. Em várias ocasiões pude constatar agressões verbais, truculência e intransigência por parte dos soldados. Em uma ocasião, quando um veículo de Brasília tentou entrar por uma rua (possivelmente o motorista não viu a placa proibindo aquela manobra), um soldado gritou de maneira grosseira: "Não está vendo a placa aí não?"... acho que seria mais correto dizer, 'Senhor, não é permitido passar por essa rua nesse sentido', mais gentil ainda seria se ele complementasse, 'O senhor pode acessar a região subindo pela rua tal". Turistas precisam de orientação e não de recriminação.
 
O pior de tudo é que a POLÍCIA MILITAR local parece fechar os olhos para os usuários de drogas. Eu, que não sou da cidade, consegui identificar três sujeitos com pinta de traficantes na área dos shows. Será que a polícia local não está preparada para identificar e reprimir o tráfico na cidade durante tais eventos? Será que é mais fácil fazer um cordão isolando a área dos shows e deixar a 'coisa' rolar solta (como foi o caso)? 



Para quem quiser saber um pouco mais sobre o Festival, acesse:



LISTA DOS PREMIADOS
XIII FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINEMA E VÍDEO AMBIENTAL


1-    Troféu Cora Coralina para melhor obra; R$ 50.000,0.
Bicicletas de Nhanderu, de Ariel Ortega e Patrícia Ferreira, PE
2-    Troféu Carmo Bernardes melhor longa mais RS 35.000,00
Os Guerreiros do Arco-iris da Ilha de Waiheke, de Suzanne Raes, produção holandesa.
3-    Troféu Jesco Von Puttkamer melhor média mais R$ 25.000,00
O Desejo da Vila de Changhu, de Xia Chenan, produção chinesa.
4-    Troféu Acari Passos e R$ 25.000,00 melhor curta
Pólis, de Marcos Pimentel, de Minas Gerais.
5-    Troféu José Petrillo mais R$40.000,00 foi para TamanduAbandeira, de Ricardo  Podestá.
6-    Troféu João Bennio mais R$40.000,00 foi para Teia do Cerrado, de Uliana Duarte.
7-    Troféu Bernardo Élis mais RS 25.000,00. A melhor Série Ambiental para TV
Consciente Coletivo, de Lúcia Araújo e Pedro Iuá.
8-    Premio Luiz Gonzaga Soares júri Popular troféu mais RS 10.000,00
Lixo Extraordinário, João Jardim, Karen Harley e Lucy Walker.



Lista dos Premiados – 9ª Mostra ABD
Menção Honrosa:
Ao filme Airábeji de Xangô, direção de Frederico Mael – Pela desmistificação e desconstrução do preconceito sobre as religiões de matriz afro-brasileira;
Ao ator: Mateus Aluísio, do filme Verde Maduro, direção de Simone Caetano – Pelo desempenho como ator mirim e como estímulo;
Ao filme Ozorinho, O Poeta da Imagem, direção de Cássia Queiroz – Pela importância do personagem, de sua pesquisa e pela sensibilidade da diretora no tratamento do filme e valorização do “saber popular”;
Aos filmes: Trombas e Formoso: Memórias de Uma Luta, direção de Coletivo Magnífica Mundi e Renova a Esperança, direção de Tatiana Scartezini, Kamyla Maia e Boris Carlos García  – Pela importância do registro e pelo resgate das lutas sociais.

1-  Melhor Roteiro, Rafael de Almeida pelo filme Talvez Seja o Vazio
2 – Melhor Trilha Sonora Original, Dênio de Paula pelo filme O Ogro
3 – Melhor Som, Dênio de Paula pelo filme O Ogro
4 – Melhor Montagem/Edição, Aline Nóbrega e Murilo Bueno pelo filme Enquanto , direção de Larissa Fernadez
5 – Melhor Direção de Fotografia, Naji Sidki pelo filme Marcas D’água
6 – Melhor Atriz, Cida Mendes pelo filme Verde Maduro, direção de Simone Caetano
7 – Melhor Ator, Hélio Froés pelo filme Verde Maduro, direção de Simone Caetano
8 – Premio José Petrillo de Melhor Filme Experimental, Sendai , direção de Cláudia Nunes e Érico Rassi
9 – Prêmio Fifi Cunha de Melhor Animação, O Ogro, direção de Marcio Jr. e Marcia Deretti
10 – Prêmio Eduardo Benfica de Melhor Documentário, Diga 33, direção de Ângelo Lima
11 – Prêmio Beto Leão de Melhor Ficção, Verde Maduro , direção de Simone Caetano
12 – Melhor Direção, Marcio Jr. e Marcia Deretti pelo filme O Ogro

Confira mais fotos da premiação no link: http://www.fica.art.br/noticias/fotos-da-premiacao-do-xiii-fica/

segunda-feira, maio 30, 2011

RIO DOURADOS


UM "PASSEIO" PELO 
RIO DOURADOS
Sábado combina com aventura...



por PC Castilho


Uma parte dos moradores de Aparecida de Goiãnia, tem o hábito de frequentar os balneários próximos da cidade de Nova Fátima (onde existem os famosos jaboticabais). A região realmente é bem atrativa, mas temos (eu e Ernesto) por hábito escolher os lugares menos frequentados. E foi justamente isto que aconteceu no dia 28 de maio passado, quando decidimos explorar uma região do rio Dourados que ainda é praticamente inexplorada.

A região fica próxima ao povoado de RONELANDIA, pertencente à comarca de Cromínia-GO. O acesso pode ser feito pelas rodovia BR-153, ou pela GO-040, saindo de Goiânia e passando por Oloana (Rasga Saia).


Optamos iniciar a viagem pela BR-153 e retornar pela 040, assim faríamos o círculo, possibilitando conhecer o povoado de Ronelandia, o qual era completamente desconhecido por nós.

Na foto acima é possível ver a estrada de terra (que não é das piores) que leva à ponte que cruza o Dourados. Este pequeno riacho que você vê na foto acima (veja em detalhe na foto de baixo) já nos indicava as belezas que iríamos encontrar alguns quilômetros à frente.


É impressionante a sensação de liberdade que se tem em uma região como essa. Como passei boa parte de minha infância no interior de Goiás (Em Aloândia... a melhor fase da vida de criança), senti que não era preciso me afastar muito de Goiânia para voltar às orígens.


A ponte sobre o rio Dourados é fácil de ser identificada: ela cruza por sobre uma espécie de 'canyon' rochoso. Há vestígios de visitantes nas proximidades da ponte, mas nossa idéia era subir até uma região (que vimos pelas imagens do satélite) onde há duas grandes serras e um outro rio encontra com o Dourados.


Como não existe estradas que leva até o ponto do nosso objetivo, tivemos que fazer uma caminhada de 4 km pelas margens do rio, que não é fácil de ser percorrido por causa da vegetação fechada, espinhos e até mesmo o relevo escarpado em alguns pontos.


Várias vezes fomos forçados a passar por dentro da água, nos pontos onde o mato se fechava completamente nos pés de pequenas serras.


Durante todo o percurso, só avistamos uma fazenda próxima da margem (por volta de 1.700 metros da ponte).


No meio do caminho avistamos uma enorme capivara, que assustada com a nossa presença, mergulhou nas águas. Um pouco mais adiante, outra surpresa... vestígios de uma antiga base de ponte feita com pedras do local. Na margem direita ainda é possível notar sinais de uma antiga estrada, mas a grande questão é em relação à margem esquerda: a ponte daria de frente com o pé de uma elevadíssima serra. A pergunta que fica é: teria a antiga estrada sido assoreada pela terra e coberta pela vegetação da serra? Isso me faz pensar que, se havia mesmo ali uma ponte, isso já faz mais de três décadas.


Passando pelo que consideramos  ser a antiga estrada, chegamos ao encontro dos dois rios, por onde fizemos a travessia a nado para continuar explorando o Dourados. Notamos que o rio que deságua nele tem muito mais volume de água.


Na foto acima é possível ver o encontro dos dois rios. O Dourados é o da direita.


Depois de mais de três horas de caminhada, encontramos o nosso troféu... uma belíssima chachoeira que passa por dois grandes paredões rochosos.
O lugar é belíssimo, tranquilo. Não há vestígios de que pessoas tenham ido ali recentemente (se foram, tiveram comportamento exemplar, não deixando nenhum lixo para trás).
Se explorado para o turismo, com certeza seria um grande atrativo.


Após uma tentativa de transpor o obstáculo pela água, decidimos que seria melhor subir por uma encosta do paredão rochoso que forma a cachoeira.


Após uma longa subida, conseguimos avistar a profunda garganta. A altitude é vertiginosa. Ernesto insistiu que deveríamos achar um ponto e descermos até a água. Ele tomou a dianteira e conseguiu achar um ponto ideal.


Chegamos ao fundo da garganta, mas não foi possível chegar próximo do ponto onde a cachoeira é formada. As rochas são escorregadias e sem o equipamento necessário não foi possível concluir a tarefa.


Nosso retorno até o ponto de partida foi feito em grande parte por dentro da água. Estávamos equipados com coletes salva-vidas. Em alguns pontos, devido as corredeiras com pequenas quedas, fomos obrigados a passar pela margem. As pedras do leito são lisas e raramente possuem pontas, tornando possível uma descida segura e agradável.


Ernesto, em um momento de nossa descida.


Nas margens do rio é possível notar que nos períodos de chuva a água atinge uma altura espantosa (mais ou menos 5 metros a mais).


Nos meses de janeiro e fevereiro, o Dourados nesse ponto deve ser ideal para a prática de caiaque em corredeiras. Alguns pontos podem chegar ao nível 3. Fica aqui o meu convite para que façamos isso no Carnaval de 2012. Alguém se habilita?



Um fato curioso que aconteceu conosco é que quando estávamos voltando para a ponte, encontramos pelo meio do caminho um grupo de pessoas que estavam armando acampamento em uma da margens. Pelas marcas no local e pela estrutura montada, percebemos que eles costumam ir sempre ao local. Perguntamos se eles sabiam o nome do rio que encontra com o Dourados lá perto da cachoeira. Para nosso espanto, eles não tinham conhecimento do rio e muito menos da cachoeira.


Repetimos a mesma pergunta para um casal que passou por nós em uma motocicleta na ponte. O casal nos vendeu uma deliciosa linguiça caseira de porco. A moça, que apresentava por volta de vinte anos, nos disse que nasceu na região mas que desconhecia completamente a tal cachoeira. O rio, pelo que tudo indica, trata-se do Rio das Pedras, que passa entre Aragoiânia e Oloana.


O rio Dourados é sem dúvida uma grande atração para o turismo. Não é preciso ir longe para se deliciar em suas águas. Se você ainda não conhece, não perca tempo. Organize sua família, reúna seus amigos e ponha o pé na estrada.