NADA É POR ACASO
por Paulo Castilho
Falar das coincidências que acontecem em minha vida seria chover no molhado. Para quem acompanha meu blog, que já leu os primeiros artigos que escrevi, já sabem de histórias que poderiam parecer mentira para a grande maioria. Na verdade, essas coincidências continuam acontecendo no meu dia-a-dia. Dizem que colhemos aquilo que plantamos. Tento cultivar as melhores sementes e tenho colhido bons frutos.
Um exemplo claro do que estou dizendo é que um dos meus sonhos sempre foi participar do FICA (Festival Internacional de Vídeo e Cinema Ambiental), que acontece anualmente na cidade de Goiás. Vários fatores sempre me impediram de realizar o sonho. Neste ano, sem que eu fizesse o mínimo esforço, fui convidado para trabalhar dez dias durante o evento. Não pensei duas vezes e aceitei. Fiquei encarregado de auxiliar os trabalhos no Teatro São Joaquim, onde os filmes estariam sendo exibidos. Também participei de todos os debates com os cineastas, que aconteceram no salão do Hotel Casa da Ponte.
Hotel Casa da Ponte, onde aconteceram os debates
Posso afirmar que foram dez dias de puro prazer. Apesar da carga horária puxada, não me senti nem um pouco cansado. Confesso que mesmo agora, passado quatro dias do final do Festival, ainda me encontro "elétrico" escrevendo esse artigo. Quero aqui agradecer às pessoas que tornaram possível a realização desse sonho, especialmente ao amigo Alexandre (Homem de Melo) e a toda nossa equipe, que se empenhou para auxiliar na realização do evento.
Prof. Bertran
No ano de 2001 tive a honra e o prazer de me tornar amigo do historiador e pesquisador Paulo Bertran, um apaixonado pela cidade de Goiás. Foi através de um convite do "professor" Bertran que tive a honra de participar de uma expedição à Cidade de Pedras.
Redescoberta em 2002 pelo pesquisador, a Cidade de Pedra é a maior do país, ocupando uma área de 500 hectares na Serra de São Gonçalo, ao lado da Serra dos Pirineus. Ela foi descoberta no ano de 1871.
Durante o pouco tempo de minha amizade com o "mestre" Bertran, pude notar o entusiasmo com que ele fazia suas pesquisas (e olha que ele dizia que eu é que era o entusiasmado), seu discurso antes da partida dos três grupos que fariam o levantamento da região da Cidade de Pedras. Sua frase final ainda ecoa em meus ouvidos: "Avante Bandeirantes Modernos".
Cidade de Pedras
Infelizmente, Bertran nos deixou no dia 3 de outubro de 2005, aos 56 anos, vítima de parada cardiorespiratória. Como era de seu desejo, ele foi sepultado na cidade de Goiás no cemitério São Miguel, no jazigo da família Fleury. Na época, devido a compromissos profissionais, não pude participar da cerimônia e nunca tive a oportunidade de visitá-lo no cemitério, apesar de ter passado pela cidade umas duas vezes.
Em minha estada na cidade, durante o XIII FICA, após cumprir minhas obrigações no evento, resolvi dar um pulo até o cemitério, já que me encontrava completamente sem sono e "elétrico" (já se passava das 3 horas da madrugada). Caminhar por aqueles becos estreitos, calçamentos de pedras e iluminação fraca dava um clima de nostalgia... parecia que eu estava em um filme. Ventava muito e a temperatura estava bem baixa. Foi uma atitude tomada repentinamente, sem muito pensar. Talvez eu não tivesse outra oportunidade para fazer a visita que eu estava devendo.
A visão que eu tinha das ruas.
Chegando ao portal do cemitério, após uma oração de agradecimento por todas as oportunidades que tenho tido (acredito que o amigo Bertran tem trabalhado para que isso aconteça), terminei com o pensamento: "Se o senhor estiver me ouvindo, por favor, dê um sinal". Como nada aconteceu, resolvi retornar à pensão onde estávamos hospedados. Logo iria amanhecer e o batente seria duro.
Ao invés de voltar pelo caminho mais fácil, resolvi voltar pelos becos, onde eu me sentia muito mais confortável. Foi quando notei que vinha em minha direção, lá embaixo no final da estreita rua, uma garota com um blusão de frio. Para evitar assustá-la, resolvi passar para a calçada oposta. Ao cruzar pela jovem, notei que ela chorava compulsivamente. Pensei se tratar de uma briga de namorados. Caminhei mais alguns passos, passando por ela sem encará-la, quando fui surpreendido por um homem que saiu de um beco transversal e que voltou imediatamente ao me ver. Pensei logo na possibilidade de ele ter feito alguma coisa com a jovem. Me virei na direção dela e notei que a mesma não havia dado um só passo do ponto onde a tinha visto pela última vez, e estava virada para a minha direção ainda em prantos. "Moça, aquele cara fez alguma coisa com você?", indaguei. "Não, eu estou perdida", respondeu ela.
Me aproximei da garota e ofereci ajuda. Assustada, ela se afastava com a minha aproximação. Me disse que estava hospedada no Hotel Raios do Sol. Como eu não conheço a cidade, falei para que ela me seguisse e que pediríamos informações ao primeiro que encontrássemos.
Após caminhar alguns metros, com a garota me seguindo alguns passos atrás, resolvi bater na porta de uma casa de onde se ouvia música. Pedi informações aos moradores, que assustados com o choro da jovem me questionaram o que estava acontecendo. Após as explicações, me indicaram como chegar ao hotel.
O nome dela era Bianca, moradora do aldeia do Vale (Minha teoria em relação a jovens que moram em condomínios fechados é que eles vivem em um mundo irreal e quando saem para fora dos muros, sentem-se meio que perdidos. amedrontados).
Chegamos ao hotel e só fui embora quando a ví do lado de dentro. Cheguei em casa (na pensão onde estávamos hospedados) e acordei meus companheiros. Eu precisava contar aquela história para alguém. Ficaram impressionados.
No dia seguinte, de volta ao trabalho, quando saia do teatro, fui surpreendido pela presença da Bianca, que me agradeceu pela força que dei a ela naquela madrugada.
Teria sido a Bianca mais uma coincidência, ou foi o "sinal" que pedi para o amigo Paulo Bertran. Dá até pra ver aquele sorriso maroto que ele costumava dar de vez em quando.
Seja o que for, nada acontece por acaso.