domingo, junho 26, 2011

PAULO BERTRAN

A SUA OBRA TÃO VALIOSA

Prefácio de Bernardo Élis

Desde esta vista de fim de Século a Milênio podemos afirmar que o senhor Paulo Bertran possui uma bibliografia numerosa e das mais importantes para o Brasil e o mundo. Seus trabalhos versam sobre a região Centro-Oeste do Brasil, sobre a qual, se os estudos e registros não são tão escassos, são esparsos e não divulgados. O autor vem se dando a esse trabalho exaustivo de juntar documentos e daí passar a outra fase mais difícil, que é comentá-los e interpretá-los com sabedoria e proficiência.

Admirador que sou de Paulo Bertran, conheço todos os seus trabalhos, desde o primeiro editado, "Formação Econômica de Goiás" (1978) até este que agora tenho em mãos, intitulado "História da Terra e do Homem no Planalto Central", ainda em estado de originais. Embora não tendo podido localizar toda a sua produção, assim de memória enumero essa primeira obra, a segunda, "Uma Introdução à História Econômica do Centro-Oeste do Brasil" e um estudo sobre Niquelândia, a São José do Tocantins de outrora, cujo título e cujo exemplar não me foi possível encontrar, na balbúrdia de minha livraria.

Daí o autor abre o seu vôo para grandes alturas a larguras, em amplos estudos como este que estou comentando, mais outro, inédito, nas mesmas condições em que faz o levantamento do desenvolvimento do Oeste através de fotografias a gravuras e finalmente esse livro interessantíssimo, também inédito, que é "A Ilustração nos Sertões" (Fim de Século). Esses três estudos citados acima abordam o fato histórico com precisão, mas procura relacioná-los de modo global com o Brasil, a América e o mundo, enriquecendo-os com peculiaridades, pormenores, informações da mais alta significação cultural. Isso faz sua leitura agradável e excitante.

Não creio que qualquer pessoa ao ler um desses três livros editados e os outros três inéditos, deixe de interessar-se pela história do Brasil Central e não prossiga na cata de mais largas informações. Os livros têm sabor de aventura.

O professor Cristóvam Buarque, ex-reitor da Universidade de Brasília, no terceiro livro editado por Paulo Bertran, escreveu-lhe a orelha e suas palavras foram muito felizes por atingir o cerne da preocupação do autor. Diz: "Bertran não limitou-se porém a um recorrido bibliográfico e conseqüente descrição do fenômeno de seu estudo e o segundo grande mérito de seu livro é a abrangência analítica. Graças a isso, situou a região dentro do contexto da economia brasileira e internacional. Ao fazer assim, o autor evitou o grave erro de historiadores menos formados, que têm vida própria no seu objeto de estudo. Graças à sua formação teórica, foi capaz de entender e descrever a economia do Centro-Oeste desde o início, como parrte de um processo econômico mais amplo do capitalismo brasileiro e mundial."

Investigador inteligente a diligentíssimo, Paulo Bertran tem revirado e rebuscado o rebotalho de nossos arquivos, depois dos saques a que os submeteram amigos historiadores, colhendo muita coisa valiosa, pois é norma consagrada que nossa curiosidade está na razão direta de nossa cultura. Além disso tem sido incansável na descoberta de papéis esquecidos nos valiosos arquivos de além-mar e que novas luzes deitam à história goiana. Porque essa história de pesquisa é muito importante. O autor verdadeiramente dotado do dom de pesquisar quase que intui, adivinha quase os acontecimentos, por indícios subtilíssimos que a tecnologia não pôde ainda ensinar, mas que, graças a um instinto especial, o pesquisador fareja e detecta como o faz Paulo Bertran.

O estudo da obra desse autor me comove porque embora desde cedo tivesse eu o dom da pesquisa a embora meu pai tivesse curiosidades históricas (especialmente sobre Goiás), eu nunca pude obter textos históricos referentes a Goiás. O primeiro que me caiu nas mãos foi a "Súmula de História de Goiás", de Americano do Brasil, edição príncepe, 1932, obra que li de empréstimo de meu primo Sílvio Curado que a obtivera por prêmio a concurso efetuado no Liceu de Goiás, naquele ano. Tal obra me abriu os olhos para os consagrados historiadores goianos, cujos livros não tinham merecido novas edições e cujos exemplares eram inalcançáveis por aqui. Só em 1940 vim a ler a obra do professor Colemar Natal a Silva e somente agora, no governo do senhor Irapuã Costa Júnior pude ler Alencastre, Cunha Matos e Silva e Souza, os dois primeiros dados a lume por iniciativa desse Governo, nesse particular merecedor de nossa eterna gratidão. Também Saint-Hilaire só li tardiamente. E essas dificuldades em obter textos históricos sobre Goiás aconteciam comigo, o faminto de leitura. O que dizer então das outran pessoas - Por isso quero frisar bem - o Governo deve editar periodicamente os livros sobre Goiás, tornando-os acessíveis a todos.

Quando escrevi "Chegou o Governador", primeira tentativa no Brasil Central de fazer romance histórico, encontrei dificuldades quase intransponíveis em todos os aspectos, especialmente no tocante a alimentos, trajes, música, dança, armas de fogo, mobiliário e mesmo vida cotidiana. A solução foi valer-me de exemplos de outras capitanias, especialmente Minas Gerais, Bahia e Rio de Janeiro. Era minha intenção fazer um capítulo ou mais sobre os vadios tão numerosos e decisivos na vida brasileira, mas a ausência de informações restringiu minha ambição a uma simples criação do mundo dos vadios como um amplo a generalizado pano de fundo. Ainda em 1976, ao escrever o livro "Estado de Goiás", para a coleção Nosso Brasil, Bloch Editora, Rio, ao abordar o assunto referente a sesmarias, à página 31, afirmo que "elas (as sesmarias) não passavam de centena e meia, das quais talvez nenhuma fora devidamente medida e confirmada". Baseava-me numa monografia sobre sesmarias escrita (não publicada) por um alto funcionário público responsável pelo assunto. E estava errado, como nos mostra o livro de que se fala!

Ao senhor Paulo Bertran devem-se estudos admiráveis sobre sesmarias como os do presente livro; cabe-lhe a descoberta de escritos desconhecidos e valiosíssimos, como os do capitão-mor de Vila Boa, Antônio de Sousa Telles de Menezes, ou aquele interessantíssimo episódio da chegada do capitão-general D. José de Almeida a Formosa, 1772. Graças a Paulo Bertran a administração dos Cunha (Luís, Tristão e João Manoel) tomaram outra dimensão, sobretudo no tocante à urbanização de Vila Boa. Além disso, Paulo Bertran nos dá notícias precisas sobre obras fundamentais da vida goiana, arquivos, documentos e outras fontes de informação. São livros indispensáveis.

Quem me dera pudesse ter contado com as obras de Paulo Bertran, quando elaborei o meu "Chegou o Governador".

Que fique aqui a recomendação - editem-se a reeditem-se copiosamente as obras que tratem de Goiás e do Brasil Central.

Ao autor, meus agradecimentos, em nome do meu povo, por essas realizações que não têm preço nem louvores que paguem.

 Para fazer download do livro:


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